Os 18 ancoradouros da Província do Espírito Santo (1869)
O padre frei José do Santa Rita Durao, cantando as antigas provincias do Brazil diz:
Outra de ambito vasto que se assoma, do E. Espirito Santo o nome toma.
Conta a provincia 18 ancoradouros que sao:
1— Mucury
2 - Guaxindiba
3 - S. Matheus
4 - Rio Doce
5 — RIACHO
6 — SANTA CRUZ.
7 — Nova Almeida (Reis Magos.)
8 — Jacarahype
9 — Victoria
Bahia formada pela banda do sul pelo monte João Moreno,e pela do norte pela ponta de Pirahem, appellidada pelo almirante Roussin—do Tubarão, com uma lagoa de largo.
Alem das agoas do mar, recebe as dos rios Santa Maria com seus confluentes Farinha, Crubixá-mirim, Mangarahy, Fumaça, Meio, Caioaba, Marinho, Santo Agostinho, Itaquary, Mucury, Cariacica, Maricará, Boipeba (Boapaba) Arabiry, Santa Anna, Taugui, Tramirim, Una de Santa Maria, Tauá, e outros de menor importancia.
O rio Santa Maria figura na carta da provincia, organisada pelo engenheiro Pedro Torquato Xavier de Brito, com o nome de — Xapinanga.
Deve-se á entrada deixar á esquerda os arrecifes dos Pacotes, coser-se com a ponta do Moreno, tendo á direita os arrecifes — Balêa — e Cavallo, quasi á flor d'agua, governando em direitura para oeste , donde se avista o palacio do governo, antigo collegio dos jesuitas.
As enormes fragatas inglezas empregadas outrora na repressão do trafego de africanos, demandavam-na,sem risco,en trando e sahindo a qualquer hora.
Victoria, 5 de dezembro de 1869.
Tito Livio da Silva.
Pesquisa, restauração, digitalização e transcrição: Fábio Pirajá.
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Helena Pignataro e Myrthes Bevilacqua (Políticas Capixabas)
Helena Pignataro foi a primeira vereadora eleita para a Camara de Vitória para a 2ª legislatura de 1951 a 1954, pelo PSP.
Myrthes Bevilacqua Corradi foi a primeira mulher a se candidatar e a primeira mulher eleita deputada federal pelo estado do Espírito Santo com mandato de 1983/1986.
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Como se faz uma panela de barro (1952)
O reporter visita a fabrica em Goiabeiras - Trabalho secular e humilde — O instrumento usado - Nossa culinária e as panelas de barro.
Reportagem de RENATO PACHECO e Fotos de MUSSO.
As paneleiras Dilma Sales, Orminda e Neném Lucidato prestam as primeiras informações ao reporter.
Vá o leitor ao Mercado da Vila Rubim, procure uma destas negras panelas de barro de uso tradicional em Vitoria, compre-a por 10 ou mais cruzeiros, e indague, por fim, dê onde vêm estes objetos tão toscos.
O leitor ja foi muitas vezes a nosso Campo de Aviação, porem, com toda certeza, ainda nao visitou o povoado de Goiabeiras, entrando por uma daquelas ruelas que correm, preguiçosamente, para a esquerda.
O reporter, curioso de conhecer algo sôbre a cerâmica tradicional vitoriense, fez isto recentemente, e, não perdeu a viagem.
A "Fábrica" de panelas de barro.
Goiabeiras é, de longo tem-po, a terra da panela de bar-ro. Distrito da Capital, situa-do no Continente, no norte da Ilha, é importante por causa de seu aeroporto.
Quarto menos populoso Distrito do Estado, com apenas 791 habitantes, seguido de Itaunas, em Concelçao da Barra, (740) Irundi em Fundão (702) e Sagrada Familia em Alfredo Chaves, (337).
Apesar disto, em época de eleições muitos candidatos correm para lá; porém, ninguém consegue desbancar a vereadora Helena Pignataro...
A industria das panelas de barro é essencialmente doméstica, feminina e manual. Os utensílios fabricados em casa ou em barracos apropriados são secos à sombra e queimados em logo descoberto, sendo a produção permanente, há mais de século, creio, e utilitária.
Não sendo usado o torno são fabricados apenas os vasilhames de borodo baixo; frigideiras, panelas, caldeiras, e, mais raramente, bules.
Trabalho secular e humilde — Nossos avós africanos, nos calores do Congo ou de Angola, já faziam vasilhames como as moças e senhoras de Golabeiras. (Não concordo com a suposição de herança da técnica dos índios, porque os tapulas que habitavam por estes pagos não trabalhavam o barro).
A tabatinga é comprada em Barreiros, na Estrada de Contorno, ao Sr. Zeco Nunes. O bolo (aproximadamente 50 quilos) custa Cr$ 12,00, o qual ao chegar ao local da fabricacão está por Cr$ 40,00. (Ultimamente passaram a vender bolas, que é uma saida para majorar o produto, porque 8 bolas de barro custam CrS 14,00 e formam um bolo).
Pesquisa, restauração, digitalização e transcrição: Fábio Pirajá.
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Manoel Pereira da Cruz e o Mistério das Máscaras de Chumbo (1966)
Manoel Pereira da Cruz e o Mistério das Máscaras de Chumbo (1966)
Em 1966, o capixaba Manoel Pereira da Cruz e Miguel José Viana, dois técnicos em eletrônica, foram encontrados mortos usando ternos, capas impermeáveis e máscaras de chumbo, geralmente usadas contra radiação, no Morro do Vintém, perto de Niterói. Suas mortes nunca foram solucionadas e o caso permanece um mistério até hoje.
Miguel José Viana e Manoel Pereira da Cruz, mortos de maneira desconhecida.
O mistério (ou caso) das máscaras de chumbo foram os acontecimentos que levaram à morte de dois técnicos em eletrônica brasileiros: Manoel Pereira da Cruz e Miguel José Viana, cujos corpos foram encontrados em 20 de agosto de 1966 no Morro do Vintém, perto de Niterói. O mistério sobre os corpos não conseguiu ser explicado até os dias de hoje.
Os corpos foram descobertos por Jorge da Costa Alves, um jovem de 18 anos que estava empinando pipa no local. Eles trajavam ternos e capas impermeáveis e não havia sinais de violência neles ou na área próxima. Perto dos cadáveres, a polícia encontrou uma garrafa de água vazia e um pacote com duas toalhas.
O que realmente chamou a atenção das pessoas foram as máscaras de chumbo usadas pelos dois homens, o que deu o nome ao incidente. Eram máscaras usadas tipicamente para proteção contra radiação. A polícia achou também um bloco de anotações com símbolos e números (códigos de referência para válvulas eletrônicas) e um bilhete dizendo: “16:30 Hs. está local determinado. 18:30 Hs. ingerir cápsula após efeito, proteger metais aguardar sinal máscara”.
Da maneira que está escrito, o bilhete é ambíguo, o que torna seu significado aberto a interpretações e teorias. Nenhum ferimento aparente foi encontrado na necrópsia, o que descartou a hipótese de homicídio, e não foi possível uma investigação de substâncias tóxicas nos órgãos internos, pois eles já estavam em grau avançado de decomposição. A putrefação também tornou impossível determinar se foram eletrocutados ou não.
A fim de solucionar o caso curioso, os investigadores decidiram reconstituir os últimos dias de Miguel e Manoel. Descobriu-se, então, que os dois teriam partido de suas casas no dia 17 de agosto. Às esposas, disseram que viajariam até São Paulo para comprar material de trabalho.
De ônibus, chegaram em Niterói às 14h30. Foram até uma loja, onde compraram capas impermeáveis, e até um bar, onde adquiriram a garrafa d’água. No segundo estabelecimento, Miguel parecia nervoso e checava o relógio constantemente. Em seguida, seguiram para o Morro do Vintém, onde foram encontrados dias depois.
Gracinda Barbosa Cortino de Souza e seus filhos, que viviam próximos ao morro onde foram encontrados, contataram a polícia local, alegando terem visto o que descreveram como um Objeto Voador não Identificado pairando sobre o morro no momento exato em que os investigadores creem que os dois homens morreram.
Diversas teorias, polícia e especialistas em ciência forense, ninguém conseguiu resolver o mistério das máscaras de chumbo até os dias de hoje.
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Serenidade sem Limites (Contestado - O Cruzeiro, 1948)
Pelo que pudemos estudar e observar, Minas e os mineiros possuem motivos para desconhecer aexisténcia da nova questao de limites com o Espirito Santo, principalmente nos termos em que foi agitada nos ultimos tempos.
Para o governo e para os estudiosos, trata-se de um caso passado em julgado, e, realmente, sacramentado em letra de lei.
Notou-se apenas ligeira sensacao de desagrado, muito natural, diante da revivescencia de uma controvérsia arbitrada ha 34 anos.
Para essa reportagem foi-nos facultada uma comprovacäo exaustiva, através de documentos, declaracoes e depoimentos categorizados. Por éles se conclui que Minas nao quer e jamais quis tomar terras ao Espirito Santo - pequeno so territorialmente.
Exemplo de fraternidade, deseja manter apenas o que Jhe pertence.
Cenhecemes bem os anseios de evolucao e engrandecimento do novo operoso do Espirito Santo.
O CRUZEIRO deseja servir por igual a mineiros e espirito-santenses. De modo que, em atencao a suscetibilidades capixadas tidas em alta conta pelo autor mineiro deste texto - fica entendido que essa reportagem procura resumir a historia o ponto de vista de Minas. Mas - tudo é Brasil.
BELO HORIZONTE Maio de 1948.
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Cristo Redentor (Estátuas de Antônio Francisco Moreira)
Cristo Redentor - Estátuas do arquiteto e escultor autodidata Antônio Francisco Moreira.
Guaçui - 1957 - 20,4 metros de altura;
Itaperuna (RJ) - 1966 - 20 metros de altura;
Rio Novo (MG) - 1975 - 19 metros de altura;
Colatina - 1976 - 35,5 metros de altura;
Mimoso do Sul - 1982 - 30 metros de altura.
Cristo Redentor de Colatina (1976)
Inauguração da estátua do Cristo Redentor em agosto de 1976, na cidade de Colatina, com 35,5 metros de altura, a terceira mais alta do país reverenciando o Cristo, somente superada pela "irmã" famosa do Rio de Janeiro, 2,5 metros mais alta e pelo Cristo Protetor no Rio Grande do Sul com 43,5 metros de altura. Obra de Antônio Francisco Moreira.
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Manuel de Andrade de Figueiredo (Escritor Capixaba do séc. XVIII)
O Capixaba autor de um dos maiores Livros de Caligrafia da Língua Portuguesa
A obra Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar, de Manuel de Andrade de Figueiredo, publicada no início do século XVIII, é um manual para ler, escrever e contar. Possui um estilo de caligrafia criado pelo autor, baseado na Nueva Arte de escribir, do famoso calígrafo espanhol Morante, impressa em 1615. Na dedicatória, o autor diz ser seu livro o primeiro no gênero que se publica em Portugal e tornou-se referência para calígrafos que vieram depois dele. Segundo o bibliófilo Rubens Borba de Moraes, a caligrafia ensinada por Figueiredo vigorou até o período de D. José I, em Portugal, quando então os mestres-escola passaram a ensinar a escrever segundo o estilo dos calígrafos ingleses e franceses. O manual chegou a ser recomendado pelo governador da Capitania de São Paulo, Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça, a partir de 1771.
Manuel de Andrade de Figueiredo era filho do governador da capitania do Espírito Santo, onde nasceu, em torno de 1670. Teve uma formação jesuíta, foi educador, poeta e, em Lisboa, tornou-se um famoso calígrafo. Faleceu em Lisboa, em 1735.
O livro é dividido em quatro tratados. No primeiro, o autor ensina a ler o idioma português, com várias "advertências" sobre a forma de ensinar e os "métodos" que devem ser observados pelos mestres. No segundo, é abordado o ensino da escrita, incluindo os instrumentos utilizados. São descritos tipos de suporte, como papel e pergaminho, receitas de tintas, os tinteiros mais recomendados, variados tipos de letras e as penas utilizadas para cada uma. O terceiro trata da ortografia portuguesa, a partir de sete regras, e o quarto ensina as regras da aritmética.
A obra encanta pela sua beleza estética, com ilustrações repletas de simbolismo, letras ornamentadas e muito bem elaboradas. Alguns traços caligráficos compõem imagens, que formam uma poesia visual junto com o texto, representadas em gravuras. Contém ainda um frontispício com o retrato do autor, na idade de 48 anos.
No caso dos manuais de caligrafia impressos, em Portugal,no século XVI, existia o de Manuel Barata, intitulado Exemplares de diversas sortes de letras. No século XVIII, o ensino da caligrafia atingiu um novo patamar, em Portugal, com a publicação da obra de Manuel de Andrade de Figueiredo. Na Espanha, havia uma produção maior desses manuais, tendo sido utilizados em Portugal. O próprio Manuel de Andrade de Figueiredo fez referência a sete autores espanhóis.
Fonte: A ARTE DA ESCRITA DE MANUEL DE ANDRADE DE FIGUEIREDO por Daniele Simas.
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Thomas Cavendish aterrorizou Vitória no Natal (1592)
Após saquear São Vicente, Thomas Cavendish dirigiu-se à Capitania do Espírito Santo atraído pelas palavras de um português, o qual disse que em Vitória eles poderiam tomar, sem dificuldades, “muitos engenhos de açúcar e conseguir boa provisão de gado”.
O que era para ser um ataque surpresa acabou se tornando um verdadeiro desastre. Tendo avistado os ingleses na costa durante a véspera, os portugueses construíram secretamente dois fortins com o objetivo de garantir a defesa da vila. A capitania, que naquela altura era administrada por D. Luíza Grimaldi, viúva de Vasco Fernandes Coutinho, primeiro donatário da capitania, e que contava com os préstimos do capitão adjunto Miguel de Azeredo, resistiu. Valendo-se do apoio dos índios trazidos das aldeias administradas pelos padres jesuítas, os moradores impuseram grandes baixas aos invasores, perdendo 80 tripulantes, e forçaram uma retirada.
Um marinheiro abandonado, Anthony Knivet, escreveu mais tarde sobre suas aventuras no Brasil. Cavendish cruzou o Atlântico em direção a Santa Helena com o restante da tripulação, mas morreu de causas desconhecidas aos 31 anos, possivelmente na Ilha da Ascensão, no Atlântico Sul em 1592. Fonte: “A construção do Brasil na literatura de viagem dos séculos XVI, XVII e XVIII”, Antologia de textos 1591-1808), de Jean Marcel de Carvalho França.
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O Memória Capixaba é um repositório iconográfico e um grupo formado por historiadores, geógrafos, pesquisadores, acadêmicos e amantes do Espírito Santo, suas cidades, suas histórias e sua gente.
Destina-se ao resgate de documentos, fotografias e filmes, a fim de que se possa elucidar dúvidas acerca de seus personagens, anônimos ou não, e de fatos importantes e do cotidiano dos capixabas.
Esse resgate nos auxilia a fechar as lacunas da colcha histórica, na qual estamos inseridos, de forma que possamos traçar os melhores caminhos para o nosso futuro.
O Memória Capixaba possui um grupo de pesquisas no Facebook e um canal de filmes no YouTube, além de outros canais e plataformas, com documentação histórica do Espírito Santo, organizado por locais, assuntos e personagens.
Pesquisa, restauração, digitalização e transcrição: Fábio Pirajá.
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Feliz Natal e um Maravilhoso Fim de Ano (23/12/2022)
Feliz Natal e um Maravilhoso Fim de Ano (23/12/2022).
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Explosão e Morte em São Torquato (1966)
13 mortos e 71 feridos em explosão em São Torquato.
EXPLOSÃO FAZ 13 MORTOS E FERE 71 EM SÃO TORQUATO
VITORIA, 2 (M) — Uma explosão num depósito de dinamite ocasionou, domingo último, no bairro de Sao Torquato, a morte de 13 pessoas e ferimentos graves em 71 outras pessoas.
Sete deles faleceram no local do acidente, enquanto outras seis morreram quando eram socorridas na Santa Casa de Misericórdia.
Até o momento foram identificados os corpos de Osvaldo Barbosa, João Mandi, Nivaldo Domingues, Alípio Gomes e Luís Montavani.
As mutilações provocadas pela violência da explosao tornam quase impossível o reconhecimento das demais vítimas. Dezenas de pessoas que se deslocaram para o local a fim de debelar o incêndio sofreram ferimentos.
Várias crianças foram pisoteadas no momento em que murtidào se dispersou para fugir aos efeitos da explosao (Mais detalhes na 3a. página).
Pesquisa, restauração, digitalização e transcrição: Fábio Pirajá.
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Manobra e Lendas por Joel Silveira (junho de 1948)
Questões de limites no Contestado - 1948.
Manobra e Lendas por Joel Silveira.
Sexta-feira, 11 de junho de 1948.
Não são lendas, meu caro Rubem Braga, são fatos e ciência jurídica. Tenho cá comigo material bastante para levar ao muro o mais veemente e o mais sábio dos capixabas: documentos, sentenças, encantadores mapas coloridos, julgamentos e apelações, ações, acordaos, e até mesmo o resultado de uma espécie de plebiscito e foi realizado na zona contestada logo após a decisão da justiça, em 1914.
Tudo isto, é de maneira alguma a lagrimazinha escondida no olho esquerdo de qualquer mineiro, e que me diz - e me diz tão bonito - que o Espírito Santo não tem razão. De qualquer maneira, é confotador e excitante ver os capixabas, como indomáveis bichos antijurídicos, se rebelarem contra os acertos da lei, e continuarem, indevidamente, a manter acesa uma questão que já se tinha esfriado e adormecido no mais e irrespondível pacifismo.
A insatisfação é sempre uma tolice de bom caráter, embora hoje ??? o descontentamento capixaba esteja sendo liderado pelo senhor Carlos Lindenberg, que não é homem de muitas retidões.
Informemos, de princípio, e talvez estejamos encaminhando ao Braga uma revelação nova, informamos que, nessa litigiosa história de limites, o senhor Lindemberg está sendo tão sincero com o seu povo quanto eu para os esquimós da Antártida, hoje duplamente ameaçados por capixabas do Chile e da Argentina. Presta-se o governador espírito santense a uma indecorosa manobra política, qual seja a de se envolver o senhor Milton Campos em uma atmosfera de antipatia nacional ou atraí-lo para determinadas armadilhas que, em política, são sempre fatais.
Rubem Braga me perguntar a quem é o dono da manobra e, consequentemente, é o empresário do Senhor Lindenberg.
Vão aqui as iniciais dele: trata-se do senhor Nereu Ramos, candidato em potencial a Presidência da República e, por isso mesmo, inimigo implacável de todos aqueles que possam vir a ser concorrentes seus na próxima sucessão.
Deixo a história assim em estilo rápido, porque o espaço não permite maiores detalhes, mas tem o elementos suficientes para toda uma reportagem sobre o assunto.
Fosse eu Mineiro e repetiria com indignação a afirmativa escrita por Rubem Braga, de que o senhor Francisco Campos é mineiro. O senhor Campos é um calhorda, e os cariocas geralmente são apátridas. Não há dúvida que foi o senhor Francisco Campos quem escreveu, para Getúlio, a "doutrina" do estado novo e espremeu a numa constituição quase que totalmente copiada do código fascista então em voga na Polônia.
É certo também que na carta de Vargas-Campos foi incluído o artigo 118, que proibia o debate sobre questões de limites entre os Estados.
Mas também é certo que, ao cobrar assim, teve o senhor Campos o cuidado de abolir com os hinos, bandeiras, leis e demais características que davam a cada estado da federação um pouco de personalidade e autonomia.
Por magia própria, deixou o senhor Campos de ser mineiro para se tornar um "brasileiro", denominação mais ampla e, e por conseguinte, é capaz de servir de depósito das calhordices mais largas e mais grossas.
Há, no artigo de ontem do grande Braga, um gracioso preço onde se conta a história de dois mapas que um mineiro teria levado a Getúlio, no Catete, contando como era meninas sem a mutilação territorial e como ficaria a ela depois da mutilação, e como os meninos das escolas mineiras iriam ficar com uma raiva danada de Getúlio se ele chegasse a estreitar os limites da pátria mineira, e como Getúlio ficou emocionado dízimo, etc, etc.
Bem, deve tratar-se de uma lenda capixaba, a que o cronista imprime o, os seus melhores recursos de estilista e de poeta. Infelizmente o meu Impressionismo, a que o próprio Braga já qualificou de "visual", me impede de competir em torneios poéticos, obrigando-me penosamente, as amarras do que vejo e do que sinto.
Tenho cá comigo os documentos, que vem o compulsando atentamente, como se diz em linguagem da Rua Dom Manuel. Não quero subestimar os sentimentos do patriota capixaba Rubem Braga. Mas não posso largar mão do meu abundante cabedal jurídico a respeito de uma questão fronteiriça já definitivamente resolvida. Sabe Braga que sou homem de muita incredulidade, e que jamais me deixaria adormecer ser por lendas ou fantasmagorias.
Tanto assim que, em Belo Horizonte, fizeram inutilmente me impingir, como fato real, a lenda de que os capixabas estão tentando corrigir a geometria circular, afirmando ousadamente que não é a linha reta a distância mais curta entre dois pontos.
Ora, lendas...
Pesquisa e transcrição: Fábio Pirajá.
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Miss Vitoria 1929 (Concurso Internacional de Belleza)
Concurso Internacional de Belleza - 1929.
Vamos iniciar, hoje, na Praia Comprida, a eleição de Miss Victoria.
A mesa eleitoral gerá installada ás horas da manhã, numa das dependencias externas do Bar da Praia; funccionando até ás 10 horas.
Em seguida far-se-á a apuração desse resultado parcial do concurso, continuando a votação até o dia 15 do corrente, pelos coupons recortados deste jornal, e devendo os mesmos ger depositados na urna que durante esse periodo ficará na gerencia deste jornal á disposição dos votantes das 13 ás 16 horas.
Vamos iniciar, hoje, na Praia Conrprida, á hora do banho da manha, a eleição de Miss Victoria.
Como declaramos acima trata-se, apenas, do inicio do concurso, pois attendendo a que não é possivel a comparencia de todos os votantes na Praia Comprida, o concurso continuará aberto até o dia 15 do corrente.
Para normalidade do mesmo ficará uma urna no balcão da gerencia deste jornal, das 13 ás 16 horas, onde os votantes deverão depositar os seus votos.
O DIARIO DA MANHÃ publicará em todas as suas edições até o dia 15, o coupon de concurso.
Além desse esta redação naquelle mesmo horario fornecerá cedulas a quem vier solicital-as.
No dia 16 deste far-se-á a apuração desse segundo resultado será sommado ao da Praia Comprida, obtendo-se assinl o resultado global, de que sahirá triumphante Miss Victoria.
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As enchentes do Rio Jucu (Vila Velha - 1960)
Das mais calamitosas as consequências das enchentes no Espirito Santo
As enchentes, no norte do Espirito Santo, parte do sul de Minas e, também, cidades do Estado Rio, ainda não cessaram e em alguns locais, as aguas já escoaram. Deixaram porém, rastro de lama, mau cheiro e, principalmente. devastação nas plantações. Em outros, as inundações persistem inalteráveis, com rios transbordando assustadoramente.
As consequências do aguaceiro que fustigou aquelas regiões são as mais drásticas possíveis. Nesse particular, ressaltamos as interrupções nos meios de comunicações, notadamente rodovias e ferrovias que ficaram obstruídas com desabamentos de pontes, e quedas de arvores e ribanceiras.
CALAMIDADE EM VILA VELHA
Embora as chuvas que há seis dias vem caindo ininterruptamente sobre a cidade de Vila Velha se mostrassem mais fracas durante o dia de ontem, a situação naquela cidade continua sendo calamitosa.
As aguas, após a queda da ponte do rio Jucu (cerca de 60 metros de extensão), continuam subindo assustadoramente. O bairro de Praia Costa tem sido o mais atingido.
O montante dos prejuízos está na casa dos cinco milhões de cruzeiros.
LONGO CONTORNO
Segundo calculo de pessoas conhecedoras do assunto, muitos dias serão necessários para a
recuperação da ponte. Com isso, viajantes que, de automove, demandam do Rio, Campos e Cachoeiro do Itapemirim, com destino a Vitoria, são obrigados a fazer longo contorno, passando pelas localidades de Piúma e Beneventes.
Esses lugares, entretanto, também já estão sendo atingidos pelas chuvas o que também ocorre com Guarapari, Marataízes e Iconha.
TAMBÉM EM AMARELO
A pequena cidade de Amarelo, distante 20 quilômetros de Vitoria. também esta sendo fortemente castigada pelo temporal. Sua população em pânico, não sabe para onde fugir, pois, cerca de 800 metros de estrada que ,recentemente sobre o aterro, pela qual seria a fuga, foram carregados pelas aguas que já estão invadindo os lares locais.
OUTRAS LOCALIDADES ATINGIDAS
CALAMIDADE se deslocou para outras regiões. Rio Jucu deixou inundada Domingos Martins, à margem da ferrovia Cachoeiro-Vitória e a rodovia que liga as duas cidades foi cortada muitos trechos, impossibilitando totalmente as comunicações.
A tradicional Vila Velha, ao pé do Convento da Penha, foi logo a seguir invadida peias águas, provocando a mobilizaçao de todos os recursos do governo estadual para atenuar os efeitos danosos da calamidade.
O governador Carlos Lindenberg se desdobrou em fazendo transferir para a capital centenas e centenas de pessoas desabrigadas, que foram liojadas no Estádio Governador Bley, em igrejas e grupos escolares.
Nada menos de mil crianças toram vacinadas e 600 pessoas atendidas, graças ao desvelo da sra. Carlos Lindenberg, que preside a LBA do Espírito Santo, atividade do diretor do Departamento Estadual de Saúde, dr. Carlos Lindenberg Von Shilgen, a associações de classe e ao fornecimento imediato, pelo Ministério da
Saúde, de vacinas antitíficas.
Os prejuizos são incalculáveis. justificando o apelo do governador capixaba ao Govêrno Federal, no sentido e obter um crédito especial de emergencia (Cr$ 200 milhões inicialmente), para atender às necessidades da população atingida pelo temporal.
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Itaúnas, Cidade condenada à morte (Revista A Cigarra de 1953)
Itaúnas, Cidade condenada à morte.
Revista A Cigarra de 1953.
Destino trágico da localidade de Itaúnas, no Estado do Espírito Santo:
desaparecer do mapa, soterrada por gigantescos dunas — No decorrer da História registraram-se vários casos de sepultamento de edifícios ou cidades pelas montanhas de areia, em diversas portes do mundo — Situação atual em ltaúnas: um Sahara em miniatura.
Texto ele ARLINDO SILVA;
Fotos de RICHARD SASSO;
No extremo norte do Estado do Espírito Santo, a cêrca de nove quilômetros da fronteira da Bahia, existe uma cidadezinha cujo destino é o mais dramático possível: morrer aos poucos soterrada por colossais montanhas de areia, numa agonia lenta e irremediável.
Chama-se Itaúnas, e é a última localidade capixaba antes da divisa baiana. Acima de Itaúnas não há estrada de rodagem, e quem se aventurar por aqueles sertões, terá de se valer do lombo de burro para chegar à fronteira baiana.
Do ar, já conhecíamos Itaúnas, porque há três ou quatro meses atrás, viajando para o Norte num Curtiss do "Lóide Aéreo", o comandante da aeronave, nosso velho amigo Niemeyer, a certa altura aproximou-se de nossa poltrona, dizendo: — "Venha um instante até a cabina. Vou lhe mostrar um bom assunto para reportagem". Na cabina de comando do "Curtiss", Niemeyer apontou para um certo ponto da costa e acrescentou:
— "Está vendo aquêle imenso lençol branco de areia, lá embaixo, com urna vilazinha ao lado? São as dunas.
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Terremoto em Vitória (magnitude 6.3) 28/02/1955
Um mito que existe no Brasil é o de que não há terremotos no País.
Os tremores, na verdade, existem, mas em geral são muito pequenos e não geram danos. Segundo o professor George Sand, do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), até março de 2011 somente dois terremotos no território nacional haviam passado de 6 graus na escala Richter: em Porto dos Gaúchos (MT), com 6,2 graus, e em Vitória (ES), com 6,1, ambos em 1955.
De acordo com o professor, o maior tremor da história do Brasil foi registrado apenas por pesquisadores do exterior, já que registros sismológicos praticamente não existiam no País. Como o terremoto ocorreu em uma região pouco habitada, não ocasionou mortes nem danos materiais. Em Vitória, o abalo sísmico causou espanto e medo, mas ninguém morreu na ocasião e os danos materiais foram pequenos - o epicentro foi no mar, a 300 km da costa. "Os prédios só balançaram", explica o pesquisador.
De acordo com Sand, existem pequenas falhas geológicas no território brasileiro e elas se movem apenas poucos milímetros, mas esses movimentos são suficientes para gerar os terremotos sentidos na superfície. O professor explica que, como os brasileiros não são acostumados a esse fenômeno, um tremor de magnitude 4 na escala Richter já espanta quem o sente.
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Miss Vitoria (Concurso Internacional de Belleza - 1929)
Miss Vitoria 1929
Concurso Internacional de Belleza - 1929.
Vamos iniciar, hoje, na Praia Comprida, a eleição de Miss Victoria.
A mega eleitoral gerá installada ás horas da manhã, numa das dependencias externas do Bar da Praia; funccionando até ás 10 horas.
Em seguida far-se-á a apuração desse resultado parcial do concurso, continuando a votação até o dia 15 do corrente, pelos coupons recortados deste jornal, e devendo os mesmos ger depositados na urna que durante esse periodo ficará na gerencia deste jornal á disposição dos votantes das 13 ás 16 horas.
Vamos iniciar, hoje, na Praia Conrprida, á hora do banho da manha, a eleição de Miss Victoria.
Como declaramos acima trata-se, apenas, do inicio do concurso, pois attendendo a que não é possivel a comparencia de todos os votantes na Praia Comprida, o concurso continuará aberto até o dia 15 do corrente.
Para normalidade do mesmo ficará uma urna no balcão da gerencia deste jornal, das 13 ás 16 horas, onde os votantes deverão depositar os seus votos.
O DIARIO DA MANHÃ publicará em todas as suas edições até o dia 15, o coupon de concurso.
Além desse esta redação naquelle mesmo horario fornecerá cedulas a quem vier solicital-as.
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A Proclamação da República no Espírito Santo (1889)
A Proclamação da República e o Espírito Santo - Morro do Moreno
Deodoro, ladeado por Rui Barbosa, entrega a Pátria a Constituição Republicana - Arquivo Hélio Silva
A despeito de não ter havido a participação popular no dia 15 de novembro, a Proclamação da República não se explica pelo ato de Deodoro da Fonseca.É que aos desgastes sofridos pelo Império no caso da Abolição da Escravidão somavam-se as chamadas Questões Religiosas e Militares, bem como a insatisfação política e o descontentamento da nova lavoura de café do oeste paulista, em supremacia econômica mas desvinculada da política tradicional.
Segue...
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Colatina pelas lentes do fotógrafo José Marques Filho, o Bem-ti-vi
O cotidiano de Colatina pelas lentes do fotógrafo José Marques Filho, o Bem-ti-vi.
Nos anos 1950, 60 e 70.
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Último acidente aéreo em Vitória (09/05/1962)
Último acidente aéreo em Vitória em 09/05/1962 com a aeronave Cruzeiro do Sul - Convair CV-240-0 - Prefixo: PP-CEZ.
Vinte e três pessoas morreram a bordo do Convair da Cruzeiro do Sul prefixo PP-CEZ, que explodiu ao aterrissar, às 19h20min, no Aeroporto de Vitória, no Espírito Santo. O avião havia partido do Rio de Janeiro às 18h18min.
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Golias (Valter Vieira) e sua famosa loja de discos (Golias Discos)
Com 72 anos de idade e 54 trabalhando com venda de LP’s, Valter Vieira da Silva, mais conhecido como Golias, mantém em sua loja de discos, localizada na Rua Gonçalves Dias, no centro de Vitória, um acervo musical invejável e muito variado. De Beethoven, passando por Beatles a Roberto Carlos, o vendedor afirma que os discos, popularmente conhecidos também como “bolachões”, nunca viraram coisa do passado. “Discos são iguais às roupas, vão e voltam”, brincou.
Antes de se tornar comerciante, Valter era discotecário. O apelido “Golias” surgiu durante esse período, em referência ao comediante Ronald Golias, graças ao seu jeito descontraído e brincalhão. O lojista começou a carreira de vendedor de discos na década de 60 quando foi convidado pelo radialista capixaba Jairo Maia a trabalhar em uma de suas lojas de LP’s. Em entrevista ao programa Jogo Aberto (1999), transmitido pela TV Globo, Golias afirma que aprendeu tudo o que sabe sobre vinil com o radialista.
Em 1971, ele abriu sua primeira loja no centro de Vitória em um sistema que define até hoje como “compra, venda, troca e aluga”. O local se transformou em um ponto de encontro da garotada. Os capixabas tornaram tradição passar na loja no final da tarde para acompanhar as novidades e lançamentos do meio musical. Nomes ilustres como José Vasconcelos, Martinho da Vila e Maysa Matarazzo já visitaram o estabelecimento.
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Padre João Clímaco de Alvarenga Rangel (1799 / 1866)
Nasceu na Vila do Querimado, em Vitória, capital do Estado do Espirito Santo, hoje Município da Serra, ES, a 30/03/1799.
Foi professor de Filosofia em sua cidade, onde poetou, quando moço, tendo Afonso Cláudio assinalado que " seus cantos patrióticos, seus hinos à amizade e às crianças, seus trenos aos desalentados da vida, impreterivelmente, são subjetivistas; são antes transportes dos estados do espírito, sínteses psicológicas, do que transmissão de impressões recebidas do contato externo".
Falta-lhes a nota popular, a expressão de viver das massas anônimas, suas aspirações e tendências; falta-lhes, ainda, o sainete lirista inerente ao ambiente brasileiro, o vigor do colorido nativista; daí o esquecimento em que caiu o poeta para os seus conterrâneos, cuja única consagração póstuma consistiu em lhe darem o nome a uma das praças de sua cidade natal, onde o poeta teve a residência e o berço.
João Clímaco, também advogado, quando ainda estudante do curso jurídico, elegeu-se deputado geral em 1833. Orador sacro de projeção mesmo fora de sua província, orou na Capela Imperial, na Corte, onde o padrão de pregadores se afinava por Monte Alverne.
Defendeu, em Vitória, os escravos presos em decorrência da Insurreição do Queimado episódio que ficou gravado, para sempre, nas páginas da história do Espírito Santo, abandonando, em seguida, a vida parlamentar, em que se notabilizara.
Faleceu em Vitória, a 22/07/1866.
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Os Becos de Victoria (extintos)
Pelos Becos da Victoria.
Vielas, Becos, Escadarias & Ladeiras de Vitória Vias que foram fechadas, ampliadas e transformadas e rua.
Os Becos de Victoria (extintos).
- Rua Do Beco 1849;
- Beco Do Estanque 1855 (Sô Chico 1872, R. São Manoel 1894);
- Beco De São Francisco 1864;
- Beco Da Lingueta, Cais 1869;
- Beco Manoel Alves 1868;
- Beco Do Mercado 1869;
- Beco Da Bragança 1870;
- Beco Da Conceição 1872;
- Beco De São Gonçalo 1883;
- Beco De São Bento 1883;
- Beco Das Canoas 1890.
- Beco São Manoel 1905;
- Beco Da Lapa 1906;
- Beco Do Oriente 1919;
- Beco Moniz Freire 1920;
- Beco Dom Manoel 1927.
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Ginásio Wilson Freitas no Clube Saldanha da Gama nos anos 1970 (Marcelo Giacomin)
Ginásio Wilson Freitas no Clube Saldanha da Gama nos anos 1970.
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Parque Moscoso nos anos 1970 (Marcelo Giacomin)
Parque Moscoso nos anos 1970 (Marcelo Giacomin)
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Cenas da História a Pátria (1944)
TEXTO DE MURILLO ARAUJO E DESENHOS DE H. SANTOS LUZES.
NO litoral de Vitória, numa colina, a velha igreja da Penha do Espírito Santo parece alongai para as brumas distantes das ondas um olhar perdido, através das pupilas baças das velhas janelas.
Ah, parece sonhar, o verbo templo, cochilando, em seu sono de quatro séculos! E se as pedras guardassem a memória dos dias, elas teriam o que lembrar... Seu rosário de saudades iniciou-se no ano antigo de 1558.
NESSE tempo elas eram a rocha. Não existia a igreja. Era a época em que um monge, Frei Palacios, chegara do outro lado do mar. E entronizara uma imagem da Senhora da Penha naquela gruta que ainda exism te ao pé do morro. Ali vivia o anacorêta com três rústicos amigos: um africano, já de cocuruto branco, um cão manso e um gatinho. E pregava a fé à gente simples. E rezava pelos pobres e os puros.
COMO acontece em muitas outras fendas do Brasil, a imagem da Penha começou a desaparecer da gen-te e a ser achada no alto do monte . Era a indicação de que a Virgem queria ficar pousada no alto, afinal mais perto do Céu... E o frade iniciou, com esmolas, a construção da ermida, que inauguiou pouco antes de abrigar-se ele para sempre, cerrando os olhos, noutra gruta mais funda, a da morte.
TUDO isso lembraria a igreja da Penha de Vitória, se as velhas igrejas tivessem um coração sonhador. E ela evocaria as horas de fervor o milagre... Evocaria os dias em que, estendo o povo a braços com a fome e com a sede, pois havia meses que o céu negava aos campos ressequidos uma lágrima, o povo acorreu em massa para suplicar à Virgem. E num milagre a chuva pródiga reverdeceu o mundo!
A DEVOÇÃO simples de outróra chegava mais de-pressa a Deus. E as romarias à igreja da Penha atraiam peregrinos de longe. Vinham batendo as estradas o aligeirando as marchas com ladainhas e cantos. Reuniam-se no adro do outeiro, felizes, num borborinho alegre. As bandeiras dansavam, coloridas, ao vento, e os fogos abriam rosas de luz nos ares... Comiam e bebiam tanto como oravam.
A IRMANDADE oferecia um jantar aos romeiros... Belos dias! Belas noites! Mas se as pedras lembrassem, as da Penha de Vitória recordariam tambem uma aventura heróica. Era nos tempos sombrios das invasões flamengas. Os holandeses hzviam invadido e saqueado a Bahia. Eles se abatiam vorazes sobre o Brasil pobre da outróra, colônia desamparada o humilde.
E CERTA vez a nova terrivel circulou naqueles campos: "Vão invadir Vitória! Veem ai os holandeses!" E um aluviao de sombra cresceu no evaço e nas almas. Todos os corações bateram mais forte, mais angustiadamente. E conta a tradiçao, que eles vieram um dia. E chegaram avassalando tudo. E investiam já Morro da Penha do Espirito Santo. Meu Deus!
A VIRGEM, porem, não desamparava o seu povo... E, de súbito, os ousados invasores viram surgir, ao longe, vago, em nuvens que pareciam a poeira do muitos esquadrões, a visão de um exército... cem legiões de cavaleiros! Tão viva era a apetência, que os flamengos debandaram, em panico, velozmente e em tremenda ?????... Derrotados!
E ENTAO o exército que tinham visto antes se mudou em simples névoas, que se adelgaçaram nos ares. E se névoas foram passando... e fugiram ao vento... E entre elas rompeu, pos fim, vitorioso, um sol de glória. A Virgem da Penha vencera: salvara o povo de seus fieis... Eis aí velhas lendas saudosas, que fazem a velha ermida chorar pelas goteiras...
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