O Folclore de Conceição da Barra (1974)

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O Folclore de Conceição da Barra (1974)
Cena Brasileira de Tárik de Souza para o jornal Opinião em 1974.

Um domingo de movimento normal na praça Getúlio Vargas. Em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição a pequena multidão de sempre. Namorados, moças e rapazes em bandos passeiam pelos Jardins.

Compactos blocos de lentos lavradores, pescadores e a classe média da cidade de Conceição da Barra, litoral do Espírito Santo vírgulam-se próximo à Igreja e nos bares das ruas laterais.

Um tiro de pólvora seca cala ou burburinho. De uma das bandas da praça, uma coluna magra de 16 homens, fardados de azul, invade a praça empunhando adagas e espadas de lata. Camisa de seda brilhante, de boca apertada e tênis, eles marcham ao rufado ralo de um tarol, guardando passadas medidas numa cadência solene.

Os rostos enrugados, envelhecidos precocemente, estão porém compenetrados de sua coreografia, os cenhos franzidos.

Dispostos à frente da igreja, eles discussão em versos decassilabos onde misturam-se um português arcaico e inesperadas metáforas.
Quando a multidão respeitosa acostumou-se aos invasores ouvem-se novos tiros.

Pela mesma rua, à direita Na praça ameaçadoramente com suas brilhantes fardas vermelhas.

Há uma r:apida troca de versos entre os adversários.
A seguir, a multidão da praça, envolvida, participa com gritos dos duelos de espadas das duplas de inimigos. Triunfam os azuis, encabeçados por uma bandeira com uma cruz bordada.
Depõe-se a bandeira vermelha, marcada pelo desenho de um sol e uma lua. Os cristãos venceram os mouros, como acontece há não menos de 100 anos em Conceição da Barra, a poucos quilômetros da fronteira baiana.

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