Energia Nuclear na União Soviética (URSS) - 1984 (traduzido)

3 years ago
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#Chernobyl #HBO #Energy

Estamos lançando na véspera de 35 anos do acidente nuclear de Chernobyl mais uma tradução de documentário soviético.

Produzido dois anos antes do fatídico acidente de 26 de abril de 1986, e 5 anos após acidente de pequenas proporções na Usina Nuclear de Leningrado, o documentário "Energia Nuclear da URSS" aborda o processo de construção de usinas nucleares e desenvolvimento de novos reatores mais eficientes na União Soviética. Começando com a Usina de Obninsk, a primeira usina nuclear do mundo, o documentário nos remete ao pioneirismo do país e a importância do acadêmico Igor Vassilievich Kurchatov, que foi vital nesse desenvolvimento pioneiro. Ao longo do documentário, há trechos da entrevista com o Presidente da Acadêmia de Ciências da URSS, Anatoli Petrovich Alexandrov. Defende-se a implantação das usinas nucleares principalmente na parte ocidental da URSS, desprovida de recursos combustíveis, e também se aborda a respeito dos novos reatores de nêutrons rápidos, que possibilitaram o reprocessamento do urânio utilizado nas usinas para a obtenção de plutônio, também componente de combustíveis nucleares. Chama atenção o grande numero de projetos na RSS da Ucrânia, com o lançamento do quarto reator de Chernobyl com 1.000 MW e da construção das usinas de Khmelnytski, Sul da Ucrânia, da Crimeia, de Rovno e de Zaporozhia. Mais ao final, a implantação também é justificada pelo viés ambiental, que na União Soviética não tinha caráter doutrinário, embora deficiente em vários aspectos, entre eles com relação o deposito dos lixos nucleares, nem sempre destinados como demonstrado no documentário.

Parte muito relevante também é a produção dos equipamentos nucleares, em que o grande exemplo é o empreendimento da Atommash, em Volgodonsk, que com a engenharia computacional soviética (limitada, tanto por sua época, como pelo atraso na corrida dos transistores) conseguia produzir em escala grandiosos equipamentos de tolerâncias mínimas.

Focado também na segurança das operações, percebemos a distância do discurso ocidental, protagonizado, por exemplo, pelo seriado da HBO, com o discurso ambiental mostrado pelos meios de comunicação soviéticos. Na União Soviética também havia preocupação em mostrar os esforços contra qualquer tipo de acidente envolvendo essas usinas, mesmo inserido em uma época em que nenhum acidente nuclear havia ganhado tamanha proporção e relevância como o de Chernobyl.

Por fim, um dos aspectos que levou a tradução desse documentário é que nele há um tipo de mentalidade que é cada mais rara atualmente, a do otimismo no desenvolvimento tecnológico como criador de um bem-estar geral, em que todos se veriam distantes dos problemas de escassez que tanto movem os conflitos mundiais. A cidade de Bilibino recebendo luz e calor através de sua usina nos remete a imagem de um oásis num deserto. Hoje, mais do escassez, percebemos que também somos guiados pela necessidade de nos destacarmos, e de criarmos novas necessidades em um processo contínuo de individualismo, essa sendo uma das causas da lenta degeneração da economia planificada soviética. E se encararmos o documentário para além da mera factualidade, arrisco a considerar que também se trata de um obra de arte que retrata em sua sucessão de imagens, discursos e trilhas sonoras, meticulosamente montadas, essa mentalidade.

"Eu estou convencido de que o bom senso inerente aos povos triunfará, e não está longe o tempo em que os preciosos urânio e plutônio serão usados em motores atômicos impulsionadores de navios pacíficos e em usinas de energia, levando luz e calor para as casas das pessoas." - Acadêmico Igor Vasilievich Kurchatov.

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