19 facadas na Praia da Costa (02/04/1977)
Crime terrível na Praia da Costa.
MUITO sorridente e com ótimo estado de espírito, a estudante Miriam Ribeiro Fernandes, 20 anos, reconstituiu para a reportagem de MANCHETE, na Praia da Costa, município de Vila Velha, ES, um crime que vários advogados e policiais garantem ser inédito na história criminal do país: o assassinato, no dia 2 de abril, da lésbica Maria Celeste Flores, 27 anos, que a perseguia há vários anos com propostas amorosas.
Maria Celeste, professora de Educação Física, morreu com dezenove facadas no peito numa noite de chuva e seu cadáver foi encontrado, momentos depois, por uma mulher que ouvira, do interior de sua casa, ruídos de uma luta corporal.
Quinze dias após, na Delegacia da Praia do Canto, Miriam Fernandes, com um vestido decotado verde-musgo, com aberturas laterais, fala, ainda alegre, dos acontecimentos que a envolveram: "Conheci Maria Celeste há uns quatro anos e desde então não tive mais tranqüilidade. Ela me perseguia em todos os lugares. em casa, no colégio e na rua, jurando-me e cobrando-me amor. A princípio, não entendi nada. A rigor, nem sabia o que significava a palavra lésbica." Miriam Fernandes diz que o desfecho natural da perseguição acabou sendo o crime: na noite de 2 de abril.
Maria Celeste se mostrou mais agressiva, tentando submetê-la a seus desejos.
Em desespero, tirou uma faca da bolsa e começou a esfaqueá-la. "Ela não dizia nada: apenas me olhava e tentava segurar meu braço esquerdo.
Até que morreu.
Sono tranqüilo.
A escuridão da noite e a chuva favoreceram a fuga de Miriam Fernandes, que pôde chegar a sua casa sem qualquer problema.
"Foi uma noite como outra qualquer. Dormi tranqüila, diz ela.
Enquanto Miriam Fernandes dormia normalmente, o cadáver de Maria Celeste era transportado para o necrotério do Instituto Médico Legal, onde se constatava, entre outras coisas, seu hermafroditismo.
No dia seguinte, a assassina se apresentou à polícia. "Fui submetida a vários exames e eles verificaram que eu era virgem,diz Miriam Fernandes, mostrando o escudo do Fluminense que traz na pulseira.
E no momento, enquanto aguarda a nova fase do processo criminal, a jovem estudante parece só ter uma preocupação: a campanha do Fluminense no campeonato carioca de futebol.
Depois de um mau começo, o time tricolor melhorou um pouco, o que parece confortar Miriam na solidão do seu xadrez.
(Maria do Carmo Calmon).
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