Tarcísio abandona seu eleitorado e abraça o establishment

1 year ago
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Tarcísio foi até Lisboa para abraçar o establishment e abandonar boa parte do seu eleitorado

O governo de São Paulo tem um gigantesco peso político. Por isso foi comemorada pela direita a vitória de Tarcísio de Freitas, encerrando um longo período de domínio tucano no estado. A expectativa era que Tarcísio assumisse a liderança da oposição, sendo um contraponto ao descondenado petista que ocupa a presidência. Ainda mais importante, ele poderia usar o peso do cargo para denunciar os inquéritos ilegais utilizados para perseguir os conservadores, e exigir o respeito aos direitos fundamentais previstos na Constituição.

Ledo engando. E não me refiro ao vergonhoso apoio que Tarcísio ofereceu à Reforma Tributária petista, aprovada no afogadilho e que traz o risco de aumento explosivo de impostos, além da concentração de poder no governo central, entre outros.

Estou falando da escandalosa participação do governador no “Gilmarpalooza”, apelido dado pela jornalista Malu Gaspar ao convescote promovido pelo ministro em Lisboa, reunindo a nata do establishment brasileiro. O evento ocorreu no final de junho, mas o vídeo com a participação de Tarcísio rodou as redes sociais apenas ontem.

“Não sei exatamente por que fui convidado para esse evento, porque estou aqui com juristas renomados falando para juristas renomados, e quem sou eu?”, disse Tarcísio, iniciando o beija mão à nata do judiciário. “Tenho que falar aqui para o ministro Gilmar, para o ministro Barroso, para o ministro Salomão, e quem sou eu?”, repetiu o governador, estendendo o agradecimento pelo convite ao ministro da Justiça, Flávio Dino.

Após o rapapé, Tarcísio passa então a discorrer sobre o “risco ao Estado Democrático de Direito”, afirmando que “a democracia brasileira é forte, é vibrante e está revigorada, e a gente não tem grandes riscos. [...] Nós estamos caminhando na direção certa, pois ele tem o fundamento na soberania popular. Fundamental é a existência de um órgão guardião da constituição, com vontade livre, com atuação livre, e isso nós temos, então esse risco é baixo. Nós temos esse guardião, e ele tem funcionado ultimamente. Temos uma democracia sólida, temos uma democracia que vai garantir para as próximas gerações um Estado mais harmônico, mais justo e com mais prosperidade.”

Tais palavras representam uma cusparada na cara de todo os milhares de conservadores que são vítimas de uma perseguição brutal nos últimos anos, vários deles censurados, presos ou exilados. Representam também uma cusparada nos milhões de eleitores que votaram em Tarcísio sob a expectativa dele representar a direita, e se colocar contra um verdadeiro estado autoritário. É uma cusparada na cara de quem se revolta com o fato de um sujeito duplamente condenado e preso por corrupção ter sido descondenado e alçado à presidência.

Não por acaso, Tarcísio já é comemorado pela militância de redação como o líder da “direita civilizada”, ou seja, ele foi ungido como o novo Alckimin, que atuará no Teatro das Tesouras como “opositor” do PT nas próximas eleições.

Ao longo do dia, bombeiros tentaram explicar nos bastidores a postura do governador, afirmando que ele apenas está “jogando o jogo”, para conseguir fazer um bom governo, ou mesmo permanecer no cargo, já que a expectativa é que muitos deputados, senadores e até mesmo governadores percam seus cargos nos próximos meses, obviamente um sinal de “democracia pujante”.

Foi exatamente esse tipo de postura que nos trouxe até aqui. Não há “jogo” possível dentro de um regime autoritário, a não ser a subserviência completa, e essa parece ser o caminho escolhido por Tarcísio. Como estamos no Brasil, é muito provável que ele seja bem recompensado pelo estelionato eleitoral que promoveu.

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