Zanith Fernandes de Azevedo (Dentista Capixaba)

1 year ago
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Zanith Fernandes de Azevedo, 111 Anos.
Dentaduras e sabedoria.

Muita gente, que hoje sua frio só de pensar em uma realiza obturação, deveria agradecer a pessoas como o capixaba Zanith Fernandes de Azevedo, do Rio de Janeiro (RS).

Com 111 anos de idade, ele é, talvez, o dentista mais antigo do mundo. E o mais sábio também. Pintor e professor auto-didata de História Universal, coletor de impostos em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, até se aposentar em 1964, danit lutou contra o caminho fácil, contra o Brasil dos desdentado seus: para ele, alugar de dente era na boca. Boticão, só em último caso.

A profissão, que exerceu no Rio, em Friburgo e no Espírito Santo, veio com o diploma na primeira turma da Faculdade Nacional, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro - na Praia Vermelha - no curso de odontologia, desmembrado da Medicina. Isso em 1911. "Não mudou muito. Mudaram os equipamentos", avalia.

Zanith praticamente inaugurou a ortodontia - correção nos dentes e mandíbulas - de forma pouco usual. No começo da carreira, quando trabalhava em Guaçuí, Espírito Santo, recebeu no consultório um compadre aflito por que o filho, de 9 anos, tinha o queixo muito projetado. Valendo-se de um manual americano que pediu para que traduzissem para o francês, Zanith fez um molde dos dentes da criança.

Seguindo o tratamento, inventou de imobilizar o queixo do menino com molde corretor no dente, no alto da cabeça, usando uma tira de câmera de pneu. "Ele ficou 30 dias com aquilo depois se curou. Nunca tinha feito antes, mas deu certo", orgulha-se este ex-cliente do avô do cantor Roberto Carlos em Cachoeiro. Ele tinha uma relojoaria. Sempre levava lá os relógios de casa ", diz.

Zanith não era da política. Conhecia tudo, mas não praticava. Ouvia o silêncio. Suas dentaduras de vulcanite (material alemão semelhante a uma borracha moldável, muito dura), nunca foram moeda de voto. "Isso jamais", reclama. Atendeu a pouco os políticos, embora família tivesse vários nomes no governo.

Restou um na memória: "tinha um senador, ou Atílio Vivácqua a, que me recomendou para coletor", Vivacqua, que era casado com uma parente de Zanith, mais tarde atuaria a favor da construção de Brasília. "Nunca fui lá, achei que Juscelino Estava doido. Hoje acho que foi uma boa ideia. Ele levou a vida e a civilização ao interior do Brasil", declara.

A noção de país, Zanith diz ter cristalizado na exposição de 1922, Centenário da Independência, no rio. Na ocasião, levou os filhos ao Pavilhão dos Estados. "Mostrei a um por um que aquilo era uma demonstração de que o estado existia. Ali o Brasil conhecia o Brasil ", define.

Sobrevivente da epidemia de gripe espanhola, Zanith se afastou do consultório para se tratar. Recuperado, passou uma temporada no frio de Friburgo, Rio de Janeiro, mas a cidade de veraneio, não tinha como paga-lo. "Aí fui ser coletor", diz ele, que hoje mora com a filha em Ipanema, zona sul do rio. Ela é um dos nove filhos, 13 netos, 14 bisnetos e dois tataranetos que possui.

Nesse meio-tempo, entre uma consulta e outra, um dente de ouro e outro - " eulane nava o ouro de moedas de Libras esterlinas quando o material estava em falta no mercado"
-, Zanith cultivava a sua paixão. "Gostava de ensinar a vida dos filósofos gregos", recorda, citando um quê em grego para não perder nada.
"A doutrina de Sócrates me fascina porque é muito parecida com a de Jesus Cristo quando fala em reencarnação. "Creio nisso", avalia Zanith, espírita kardecista.

A paixão pela filosofia atravessou sua vida como parte da personalidade. Mais uma parte descolada. Até que, aos 95 Anos, a família ofereceu um presente especial: ir à Grécia.
"Contemplei com muito respeito os tempos onde Sócrates viveu e nos quais ele conversava com seus discípulos", conta, com brilho nos olhos frágeis, antes de concluir, " foi um grande bem-estar. Foi como se estivesse em casa ".

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