Homenagem ao Padre José de Anchieta (1900)

1 year ago
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Padre José de Anchieta

Ha 303 annos, no dia 9 de Junho de 1597, a Igreja de Sant'lago, do Collegío dos Jesuitas, abriu as suas portas para receber em funebre procissão os restos mortaes do grande Apostolo da terra Espirito-Santenso — Padre José de Andhieta.

Clero, nobresa, ordens religiosae, confrarias com sua cera, povo, acompanhados do Prelado
Bartolomeu Simões Pereira, sob o peso do grando abalo, do lagrimas de corações agradecidos, cerimonias religiosas surprehendentes e dobres plangentes de sinos annunciavam o tristissimo espectaculo que a Igreja de Sant'Iago ia testemunhar, ondo a multidao, genuflexa o ern pranto, vinha guardar os restos mortaes do grande Apostolo.

Dos quarenta e sete ánnos que vestiu a roupeta de Jesuita, José de Anchieta consagrou quarenta e quatro á civilisação Brazileira,e trinta e dois exclusivamente á terra espirito-santense, no meio das selvas, catechisando as tribus ba barbaras, obrigando-as á mansidão evangelica e semeando-lhes nos corações amor ao trabalho, por meio de sua convincente palavra e inegualaveis virtudes, que conquistaram-lhe a justa reputação do — Thaumaturgo da Novo Mundo.
Erigiu templos e fundou aldeias, que hoje são florescentes cidades.

Chegando à Capitania no anno de 1563, investido das altas funcções de Provincial do Collegio dos Jesuitas da Villa da Vistoria, foi estabelecer-se na rampa de um morro do lado norte do rio Iriritiba, onde principiou a levantar um templo, sob a invocação de N. S. da Assumpção, annexando-lhe um soberbo edificio, cujos restos ainda actualmente servem para attestar o seu valor.

Ali, fundou urna aldeia com o nome do «Iriritiba» que por Alvará do 1. de Janeiro do 1759 o communicação do Conde D. Marcos de Noronha, Vice Rey do Estado do Brazil, de 26 do Março do mesmo anno(*)ao Ouvidor da capitania, foi elevada a Villa com o nome de Benevente, o qual, por uma lei da antiga Assemblèa Provincial, foi substituido pelo do Anchietá em homenagem ao seu fundador.

Emprehendeu, em 1571, uma viagem ao Rio Doce, ando inscreveu a seguinte prophecia:— O RIO DOCE SERÁ MUITO CUIBIÇADO MAS NUNCA, POSSUIDO.

Entre os annos de 1585 á 1587, em um cume visinho à embocadura do rio—«Guarapary» ergueu uma Igreja sob a invocação de N. S. de Sant'Anna, onde, pela eloquencia de sua palavra, attrahia os selvagens, com os quaes instituiu uma aldeia que, por carta de 1° de Janeiro de 1679, do donatario o governador da capitania Francisco Gill do Araujo, foi elevada a Villa do mesmo nome.

Visitou, ora 1595, a nascente povoação á margem do rio «Cricará», chegando no dia 21 de Setembro no qual a Igreja celebra os martyrios do Apostolo S. Matheus, por cujo motivo deu-se-lhe esse nome.

(•) É possuidor desse importante documento o sr. Ovidío dos Santos, advogado do nosso fôro.

Regressando dessa sua excurção, recolheu-se á aldeia de Iriritiba, sua predilecta residencia, situada á 14 legoas da Villa, alquebrado pelos annos e privado de todas as commodidades corporaes, onde recebeu, das mãos do Supremo Creador, a morte entre os indios, com tanta quietação e paz como se estivesse em oração ; d'ahi foi o seu cadaver transportado aos hombros por mais de trezentos delles, acompanhados pelo Padre João Fernandes, que fez a pó todas as 14 legoas.

Do interessante trabalho, «Vida do Padre José de Anchieta», escripto em 1607, pelo Provincial Padre Pedro Rodrigues, trasladamos as linhas seguintes:

«Chegado o corpo ao porto da Villa do Espirito-Santo, accudiu logo o Capitão Miguel de Azeredo,(**) o Administrador Bartholomeu Simões Pereira com toda a cleresia, os religiosos de S. Francisco que ali tem casa, o Provedor e Irmãos da Santa Casa de Misericordia com sua bandeira e tumba ricamente ornada, as Confrarias com sua «cera e toda gente da Villa.

Trouxeram-no da praia, o Provedor e Irmãos da Santa Casa de Misericordia na tumba até à porta da Igreja, aonde os nossos «Padres o tomaram e levaram a «sepultura».

(**) Miguel do Azeredo, Capitão do Ordenanças, Adjuncto de D. Luiza Grinalda, donataria da Capitania.

O discurso funebre foi pronunciado pelo Prelado do Rio de Janeiro Bartholomeu Simões Pereira, presbytero do habito de S. Pedro e Bacharel formado, que nessa occasião se achava na Capitania, para onde se retirou desgostoso com os habitantes da sua diocese.

A Igreja Catholica abre hoje, de par em par as suas portas para entoar a tuba do seus hymnos ao grande Apostolo da civilização Brazileira, que nas paginas da nossa Religião deixou inscripto, seus gloriosos feitos.

O Brazil inteiro curva-se para prestar-lhe homenagens. A Patria Espirito-Santense ajoelha-se para beijar a louza do sepulchro que encerrou os restos mortaes de seu—Benfeitor.

E eu humilde obreiro da terra Espirito-Santense, procuro no espaço, perdido na immensidade, o Creador Supremo, para agradecer-lhe, em nome desta terra que serviu-me de berço o astro que projectou sobre seu solo para espancar-lhes as trevas semeando-lhe a—Civilização.

Victoria, 9 de Junho do 1900.
Vlademiro da Silveira.

Pesquisa, restauração, digitalização e transcrição: Fábio Pirajá.

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