“A Coisa do Quarto dos Fundos”

Streamed on:
439

Não sei bem como começar isso… Mas se você está lendo, por favor, acredite em mim. Não é invenção. Eu daria qualquer coisa pra esquecer o que aconteceu naquela casa em Recife, em 2014. Eu morava com meus pais e minha irmã mais nova numa casa antiga, daquelas com janelas de madeira pesadas e piso de taco que rangia só de pensar em alguém andando.

Era uma casa herdada do meu avô. Sempre teve um clima estranho, sabe? Mas ninguém falava muito disso. O problema mesmo era o quarto dos fundos. Sempre trancado. Me diziam que era cheio de entulho velho, só isso. Mas até criança sente quando tem alguma coisa errada. Eu passava por lá e gelava. Sempre. Mesmo no calor insuportável do verão, aquele corredor ficava frio. O silêncio ali era diferente. Denso.

Uma noite, acordei com um barulho. Tipo uma cadeira arrastando. Olhei pro teto, nada. Era como se viesse de dentro da casa. Saí do quarto, meio grogue ainda, e o som parou. Mas quando passei pelo corredor dos fundos, ouvi três batidas secas na porta do tal quarto trancado.

TOC. TOC. TOC.

Pareciam do lado de dentro. Fiquei paralisado. Juro por tudo. Não consegui gritar, não consegui correr. E então veio o cheiro. Forte. De coisa podre, estragada. Era como se o ar ao redor tivesse apodrecido de repente. Voltei pro meu quarto tropeçando, bati a porta e dormi com o abajur aceso.

No dia seguinte, perguntei à minha mãe se tinha ouvido algo. Ela desviou o olhar. Depois de muito insistir, me contou o que eu nunca deveria ter sabido: aquele quarto foi do meu tio, o irmão dela. Ele tinha problemas… mentais, disseram. Um dia surtou e tentou machucar a própria mãe. Acabaram internando ele. Meses depois, morreu lá. Adivinha? Dentro do quarto dos fundos. Sozinho. Trancado.

A família nunca conseguiu se desfazer da casa. Dizem que ele aparecia nos sonhos da minha avó pedindo pra “deixar ele sair”. E quando ela morreu, o quarto foi trancado com cadeado. Nunca mais aberto.

Depois daquela noite, as coisas pioraram. Ouvi passos atrás de mim quando estava sozinho. Meus objetos se moviam. Um dia, encontrei a porta do quarto dos fundos aberta. Não pergunte como. Eu sei que ela estava trancada.

Entrei. Só uma vez.

Estava tudo escuro, mas... no fundo, havia um espelho. Quebrado. E escrito nele, como se arranhado com as unhas, estava: “VOCÊ ME OUVIU.”

Nunca mais entrei lá. Nos mudamos meses depois. Eu ainda sonho com aquele espelho.

E sempre acordo com cheiro de podre no quarto.

Loading comments...