Fim de Semana de Guarapari (Revista Manchete - 1968)

4 months ago
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Reportagem de Hugo Góis para Revista Manchete.

Se você vai a Guarapari de carro ou ônibus, é sem dúvida magnífico. Seus olhos vão roçar no melhor trecho de beleza de areia do Brasil, a nossa Costa do Sol, muito além de ver Nápoles e depois morrer.

Mas se você vai a Guarapari a convite do telúrico Pedro Ramos, o prefeito, e de Hélio Rodrigues, o simpático, em um dia de céu azul do aero-comander da Líder, vendo das nuvens aquela natureza confeitada por Deus, então você tem que inventar com urgência um adjetivo.

Pois ainda não existe (mesmo) palavra de transmissão para o que vai acontecer dentro de você. Lá estivemos nós, da O Cruzeiro, e companheiros dos Diários Associados, em pé de vento de fim de semana, numa guinada colorida de 72 horas.

Gente sorrindo, praias generosas, brotos radioativos riscados a capricho, mansões repetindo o gesto de cimento de Beverly Hills, o grande mar chegando às areias em ondas havaianas — enfim, um complô sensorial de grandezas.

No aeroporto, a perfeição amiga de Pedro, Hélio e Jairo Pereira, as potências municipais que completam a obra divina em Guarapari. Depois, ver para crer: eis Meaípe, seu mar alface e sua solidão nutritiva. A Praia do Morro, Perocão e Setiba, esquinas do mesmo céu, com sua paz que coloca os nervos em rede do Ceará.

Os pés livres, calcando a areia, pisando no fim da onda, e os olhos mergulhados no azul. Um aporte para a Enseada Azul, o postal-mais-tudo de Guarapari.

Em toda a orla marítima, o concreto armado em formato de arte, mas funcionando bem para moradia. O cansaço foi se aproximando do fim do dia, e daí, precisamente a batida de caju, começo de serenata debaixo de lua e estrelas. O melhor de Sílvio Caldas, Altemar Dutra, Orlando Silva, o melhor museu da saudade grande. "Para, Pedro, Pedro para, este Pedro é uma parada" - modinha voluntariosa para mexer com o prefeito Pedro — foi bossa de violão e canto em coro, assim como cantavam os gregos de Eurípedes.

Depois houve magia. Umas panelas fumegavam em fogão colonial. Uns seres enigmáticos, silenciosos, andavam de lá pra cá, buscando temperos silvestres. Uma pitada também de pó cinzento de Paris, um orégano mais balsâmico. Enfim, a misteriosa e infinitamente gostosa peixada eclética de Guarapari.

A confraternização cósmica do camarão, siri, caranguejo, mariscos mil e peixes de linhagem azul. Que molho, peixe e pirão. Era proibido comer depressa. Tinha que ser bem de mansinho, foguete, em estado de graça e concentração. Assim improvisamos aquelas 72 horas com o prefeito Pedro Ramos. Homem feliz e completo. E apenas porque tem Guarapari como moldura. Assim estava o restaurante "Gaeta", em Meaípe, onde o prefeito Pedro Ramos, que é visto ao centro, ofereceu um almoço aos jornalistas associados que visitaram Guarapari em um fim de semana.

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