Guarapari, A Praia dos Milagres (Revista Manchete - 1961)

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NAS PRIMEIRAS BOMBAS ATÔMICAS HAVERIA TÓRIO DE GUARAPARI.
Revista Manchete - 1961.

O brasileiro riquíssimo, que só acreditava em médicos e remédios estrangeiros, ficou sabendo, com certo assombro, que até da Europa já mandavam reumáticos para Guarapari, a pequena cidade do litoral do Espírito Santo.
Seguiu o conselho e algum tempo depois as dores não mais o afligiam. Os dedos das mãos, antes recurvados, quase em garra, se distenderam. Voltou às suas atividades normais e atualmente se refere, com entusiasmo, a Guarapari: — É a praia dos milagres!

Nem em todos os casos as areias radioativas dão bom resultado. Mas curam até asmas rebeldes. Um dos médicos brasileiros que ajudaram a pôr Guarapari no mapa foi o Professor Silva Melo, autor das primeiras comunicações a respeito das virtudes curativas de sua areia, publicadas no exterior. Além dos milagres que tem operado, restituindo a saúde a muita gente, Guarapari é também a maior fonte produtora de tório em nosso continente.

Suas areias monazíticas contêm cêrca de 2% de tório, minério indispensável à indústria atômica. Muito dêsse tório saiu clandestinamente do País. Navios que descarregavam cargas no pôrto de Vitória enchiam os porões com essa areia, como "lastro".
Carrearam assim uma enorme riqueza, que não lhes custava um ceitil. Só em 1945, o Brasil tomou conhecimento da importância do tório. Foi feito, então, um acôrdo com os Estados Unidos, pelo qual venderíamos anualmente 3 mil toneladas de monazita ao preço in-significante de 30 a 40 dólares cada uma, mais tarde elevado.

Desde então, exportamos 32 mil toneladas. Calcula-se que, a trôco de 6 ou 7 milhões de dólares, sofremos um desfalque energético correspondente a 5 bilhões de toneladas de carvão.

Em 1951, o contrôle da monazita, convertida em monopólio estatal, passou para o Conselho Nacional de Pesquisas e, depois de um inquérito rumoroso, em que foram ouvidas cêrca de trinta pessoas, as exportações do precioso minério foram terminantemente proibidas, por sugestão do Conselho de Segurança Nacional. Da monazita, dizia o Senador Atílio Vivacqua: "O seu valor não tem preço. A única troca viável seria a de um quilo de monazita por um milhão de quilos de trigo."

A monazita não é facilmente encontrada. Ela é o resultado de urna demorada sedimentação. Só é encontrada com relativa abundância em quatro países: a Índia (que tem as maiores jazidas), o Brasil, a Bélgica e o Canadá. Desde a sua independência, a Índia também proibiu a exportação das areias douradas que contêm o preciosíssimo tório.

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