Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha (Demolida em 1897)

5 months ago

Na região que hoje abriga a Praça Costa Pereira, outrora os pescadores ancoravam ali o cansaço das jornadas no mar. A Prainha, como era conhecida, funcionava como uma enseada, um refúgio para a exaustão das ondas. As águas que banhavam o local vinham de longas travessias, enfrentando perigos nas mãos de piratas e o desgaste causado pelo escorbuto. Chegavam impulsionadas pelo último sopro do vento, umedecendo a areia antes de se dissiparem em espuma.

Os trabalhadores do mar ansiavam por uma capela, necessitavam dela para expressar gratidão e louvor pela multiplicação dos peixes. Viviam da transformação miraculosa de badejos, dourados, robalos, tainhas e peroás em alimento à mesa, nem sempre abundante, mas repleta de fé nos desígnios divinos.

Assim, foi erguida a capela, um cubo arquitetônico em um ancoradouro marítimo, no século XVIII. Seus alicerces eram feitos de espuma e vigas de brisa. A edificação era barroca, refletindo a fé simples dos humildes: os pescadores, os desfavorecidos da terra. Ali se reuniam as famílias dos pescadores, devotos da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Prainha.

Contudo, a igrejinha não resistiu. Afundou como uma embarcação sem mastro, remo ou vela, sem marujo ou capitão. A capela, desapropriada em 1896 para a expansão da praça, foi demolida por pouco mais de 50 mil trocos de Judas.

Nossa Senhora da Conceição resistiu. Ignorou o último decreto e recusou-se a ser transferida para a igreja do Rosário dos Homens Pretos. Em duas tentativas, a santa foi colocada em um andor, mas em ambas as vezes conjurou as nuvens e os ventos para salvar sua igrejinha. Tempestades consecutivas frustraram a mudança. Contudo, cansada da insistência dos pecadores, Nossa Senhora da Conceição cedeu. Abandonou o local como um barco solto do cais.

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