José de Anchieta e a primeira gramática Tupi (1595)

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José de Anchieta escreveu a primeira gramática tupi - Revista Manchete, 1978.

"Abaré-bêbê" cumpriu a missão com a ' rapidez habitual e voltou da Bailia a 24 de dezembro de 1553, trazendo os Padres Afonso Brás e Vicente Rodrigues e dois irmãos, José de Anchieta e Gregório Senão, que tinham vindo de Portugal doentes, à procura de melhor clima.

Os dois eram muito versados em língua latina e Nóbrega desde logo resolveu valer-se de suas aptidões lingüísticas, não só no ensino desse idioma, mas ainda para que estudassem o idioma dos índios, a fim de servirem de intérpretes.

Anchieta se empenharia tão a fundo nesse mister que, em breve, era o principal "língua", como então se dizia. "Língua" era na época a ex-pressão correspondente a "intérprete". João Ramalho, como "língua" fora de grande utilidade nas conversações que antecederam a fundação de Piratininga. Mas não podia deslocar-se do meio em que vivia para atuar em lugares distantes. Anchieta preparou-se para isso e, tão bem, que não só escreveu uma Arte de Gramática da Língua Usada na Costa do Brasil, como ainda escreveu outros para serem representados com a participação de índios converti-dos, em língua tupi.

A gramática de Anchieta foi publicada em Coimbra em 1595, dois anos antes de sua morte. Com seu ardor de catequista, Anchieta procurava converter quantos índios conhecesse e se empenhava principalmente em cristianizar seus chefes. Teria sido ele o autor da conversão do cacique Tibiriçá, batizado com o nome de Martim Afonso Tibiriçá, em honra do fundador da Capitania de São Vicente. Quando morreu o velho cacique, a 25 de dezembro de 1562, Anchieta ficou contristado.

E escreveu, então, numa carta, datada de 10 de abril de 1563: "Morreu o nosso principal, grande amigo e protetor, Martim Afonso." Convertera, também, o guerreiro Ararigbóia, que recebeu o mesmo nome ao ser batizado. Ainda que José de Anchieta houvesse chegado ao arraial de Piratininga depois de terem sido construídas as suas primeiras habitações, é considerado um de seus fundadores, pois participou de seu período inicial, ali já estando a 25 de janeiro de 1554, data da conversão de São Paulo, que iria dar nome à. aldeia.

Nesse dia, foi rezada missa, que Anchieta, numa carta, disse ter sido a primeira.
Entretanto o Padre Serafim Leite diz que certamente o Padre Nóbrega celebrara missa antes, a 29 de agosto de 1553, quando reunira na aldeia cerca de 50 catecúmenos, ou índios convertidos. A carta em que Nóbrega faz esse registro é chamada pelo Padre Serafim Leite "a certidão de idade de São Paulo de Piratininga" Anchieta não era ainda padre quando foi com Nóbrega a Iperoig em missão de paz junto aos índios tamoios, cuja ajuda se fazia necessária à expulsão dos franceses da baía de Guanabara.

Para melhor convencer os índios, Anchieta fica entre eles, como refém, e nesse período escreve nas areias da praia as estrofes de um poema latino, que vai memorizando, De Beata Virgine Dei Matre Maria com quase seis mil versos, o poema terminava com esta dedicatória: "Eis, Mãe Santíssima, o cármen que oferecem teu louvor, vendo-me cercado de inimigos, quando, com a minha presença, tranqüilizava os tamoios irritados e, desarmado, ajustava pazes com bárbaros armados. Então, tua bondade teve, com amor materno, cuidado de mim, e à sombra do teu amparo vivi seguro em corpo e alma."

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