Venenosa, ê, picada venenosa

10 months ago
103

"Em 19 de março de 2021 fui tomar a primeira dose da CoronaVac numa UBS de Taboão da Serra, cidade que fica mais ou menos perto de Cotia, onde moramos. [...] Aos poucos, a noia da aglomeração foi substituída pela sorte de ter finalmente recebido a vacina, o que me deu certa sensação de proteção celeste. Cheguei em casa, tomei banho, dei comida aos bichinhos, assisti a uma série e fui dormir. Dia seguinte acordei com um elefante deitado sobre o lado esquerdo do meu corpo. Eram dores tão alucinantes que pensei estar infartando. O lado direito funcionava bem, como se nada houvesse, e arrastava o esquerdo como um saco pesado de batatas.

Em 9 de abril fui tomar a segunda dose da vacina já preparada caso o elefante resolvesse dormir comigo novamente. Antes fosse. Passei a noite do mesmo dia em claro, tossindo e escarrando uma espécie de gosma nojenta meio marrom e com o peito chiando. Crente que fosse uma bronquite, dia seguinte de manhã marquei uma consulta no Einstein com minha otorrina de longa data, dra. Estelita, que ao me ver ficou impressionada com a minha magreza e me fez subir na balança: 37 quilos. Mediu os sinais vitais e, ao escutar os pulmões, demorou mais que o esperado. [...]
Até então, imaginava que fosse voltar para casa naquele mesmo dia; devia ser uma bronquite e um remedinho daria conta de me deixar nos trinques. Mas fui comunicada pelo dr. Ribas de que poderia ser uma de três coisas: fungo, tuberculose ou câncer."

Lee, Rita. Rita Lee: outra biografia. 1ª ed. — São Paulo: Globo Livros, 2023

Loading comments...