SOMOS NÓS O POVO?

1 year ago
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Seríamos nós "o povo" citado no artigo 1o da Constituição Federal, de onde emanaria todo o poder?
Esta é uma pergunta que requer uma resposta honesta por parte da chamada direita liberal e conservadora no Brasil.
Logo após o segundo turno das eleições de 2022, milhares de cidadãos brasileiros se concentraram nas portas dos quartéis clamando por socorro. Cartazes com os dizeres "SOS Forças Armadas!" se viam por cidades de todas as unidades da Federação. A crise institucional parecia inevitável, após um proceso eleitoral controverso, injusto e, sob a perspectiva dos eleitores de Jair Bolsonaro, não confiável.

"Certamente o Presidente solicitará a impugnação das eleições no prazo constitucional!" afirmavam alguns. Outros, contavam com uma ação militar para a "garantia da lei e a ordem", por determinação do Chefe do Poder Executivo. A esperança se voltou para o Comandante Supremo das Forças Armadas, que, certamente, exerceria sua autoridade para o restabelecimento da harmonia entre os Poderes da República. Bolsonaro, entretanto, manteve o "silêncio eloquente" até deixar o país, dois dias antes da posse de Lula.

Diante das inconstitucionalidades e arbitrariedades promovidas pela cúpula do Poder Judiciário, o Poder Legislativo manteve a leniência cúmplice que marcou o governo Bolsonaro. A "direita", após o fatídico 08 de janeiro, se viu obrigada a retrair, decepcionada com as Forças Armadas que não defenderam "seu povo".

A esta altura dos acontecimentos, e na expectativa dos trabalhos da aguardada CPMI, fica evidente que parcela muito significativa do "povo a ser defendido" aplaudiu o retorno do grupo político que havia assaltado o país. Aos eleitores convictos de Lula somaram-se os que de forma inconsequente rejeitaram Bolsonaro, abrindo mão de sua ótima equipe ministerial. O mainstream jornalístico escolheu seu candidato, bem como a maioria da classe artística e dos meios acadêmicos "progressistas".

Aproximadamente 1/3 dos eleitores, conscientemente, optou pelo voto branco, nulo, ou pela abstenção, enquanto os "operadores do Direito" se omitiam diante da escalada arbitrária do TSE (em sua cruzada contra os "atos antidemocráticos"). As elites financeiras jamais foram iludidas e fizeram vista grossa para o avanço do crime organizado.

Seis meses se passaram das eleições e torna-se possível constatar que o povo brasileiro precisa, de fato, ser salvo. Não de um inimigo exógeno, mas de si mesmo e de suas inconscientes idiossincrasias. Para tal, há dois caminhos bem conhecidos: a tutela de um poder aristocrático (que imponha um destino julgado virtuoso), ou a maturidade democrática.

Não existe uma frente conservadora e liberal organizada em partidos políticos no Brasil. Talvez agora, diante das agruras do trabalho parlamentar de uma oposição mais responsável, algo surja nesse sentido. Contar com o atrativo atalho institucional advindo da intervenção militar é demonstração cabal da imaturidade política.

Duas notícias finais: uma boa, outra ruim.
A ruim primeiro: não existe massa crítica e articulação política para a implementação de um projeto conservador-liberal no Brasil.
Agora a boa: não existe apoio da sociedade, tampouco das Forças Armadas, para a imposição de um regime socialista no Brasil.

Eis o impasse colocado diante do tal "povo" que habita a maior nação do hemisfério sul do planeta.

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