"Lalinha" - Vera De Barcellos - Instantes de Relaxamento e Meditação

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No ano de 1962, os bairros Ganchos do Meio e Canto dos Ganchos inauguravam seus Grupos Escolares contruídos de alvenaria. Suas estruturas eram compostas por 03 salas de aulas cada um, banheiros e gabinete de direção. Aos poucos a escola tornava-se referência na comunidade e recebia professores de diversas regiões, principalmente de Biguaçu, sede da Comarca.

No início dos anos da década de 1970, deixou de existir a nomenclatura “Grupo Escolar” e passou a ser usado “Escola Básica”. No comando da direção da Instituição Escolar, em Ganchos do Meio, foi a professora Dalvina de Jesus Siqueira, natural de Biguaçu, nascida em 23 de agosto de 1929, filha de Otávio Clemente Martins e Maria Martins. Dalvina iniciou sua profissão no magistério catarinense em 1949. A professora chega em Ganchos com uma grande bagagem de conhecimentos na área, base para assumir à direção da escola local, e trabalhar a conscientização dos pais a favor da complementação dos estudos de seus filhos.

O recém-criado Município, a partir de 1967 muda de nome, passando de Ganchos para Município de Governador Celso Ramos, que vivia a ascenção da pesca e a maioria dos pais não faziam questão que seus filhos estudassem. Era comum falar:
“aprende a fazê o nome e fazê conta, que tá bom, aqui nos Ganchos ninguém vai criá doutô mesmo”.

Com a fartura dos pescados e com as aberturas de salgas, o município começou a caminhar bem, o que colocou em risco as salas de aulas, que aos poucos iam sendo trocadas pelos trabalhos nas salgas, onde meninos e meninas de 10 a 12 anos deixaram de frequentar à escola para trabalhar.

O olhar de Dalvina para o futuro promissor dessa juventude da época foi primordial. Mulher coragem, determinada, com a força que vinha de dentro, encarava o mundo e adaptava-se em qualquer situação.

E foi assim, que com sua força e dignidade soube enfrentar os “gancheiros”, que na época mantinham status de valentes e que ignoram essas situações voltadas a escolas.

Dalvina como diretora começou a visitar as familias. Jantava, almoçava na cada de um, na casa de outro, tornando-se assim uma gancheira por convicção e a mais respeitada das diretoras que ali atuou. Tinha cautela em falar com os pais e falava a linguagem que eles gostavam de ouvir. Era com o jeitinho dócil da mulher biguaçuense que ela encarava os problemas entre escola e comunidade. Nas reuniões de pais, conseguia encher a sala, coisa que não era comum

A direção de uma escola requer alguns cuidados especiais, principalmente a questão da conciliação entre pais e professores, muitas vezes resultando em problemas por mal entendidos entre alunos. Dalvina tinha o cuidado de viver a escola como mediadora, protegendo as crianças, mas sempre apoiando os professores.

Na escola de Ganchos, ela foi um exemplo a ser seguido como diretora escolar. Nos dias frios de inverno sua alma chorava ao ver crianças subindo o morro da escola desprotegidas do frio e da chuva, e ela com seu calor de mãe providenciava roupas que trazia para doações, agasalhando os pequenos.

Jovens que saiam da adolescência e não sabiam o norte a seguir, não querendo enfrentar o mar ou as salgas, e era a ela que eles buscavam apoio para interceder junto aos pais, para que dessem a oportunidade deles continuarem seus estudos em Biguaçu ou Florianópolis, ou até ali mesmo em Ganchos, pois muitas crianças eram obrigadas a abandonar a escola por necessidade e por falta de apoio dos pais.

Um mulher à frente de seu tempo sempre. Não esquece Ganchos e nem os gancheiros que ela teve a oportunidade de conhecer. Ainda na década de 70, já nos últimos anos, foi diretora do Colégio Maria da Glória em Biguaçu, que oferecia o curso Normal para professores, e era para lá que os gancheiros corriam, para a proteção de Dalvina.

Essa é Dalvina de Ganchos, nossa querida Estrela, Dalvina de Jesus Siqueira, que no ano de 2002, me convidou para fazer parte da Academia de Letras de Biguaçu, dessa forma, fui o primeiro gancheiro a fazer parte de uma Academia de Letras.

Desse convite, nasceu o desafio feito por ela, de criarmos em Governador Celso Ramos uma Academia de Letras, que criamos em 05 de junho de 2004, sendo ela nossa Presidente de honra.

O orgulho de ter conhecido Dalvina e ter aproveitado seu apoio me fez crescer e alavancar um grande projeto literário. Hoje confrades da mesma Academia, sou grato por sua vida e por sua sempre amizade.

Atuante na Academia de Letras de Biguaçu participando de todas as atividades, dona Dalvina também apoia as causas culturais e literárias de toda região.

Nome forte no meio cultural, ela orienta e abre caminhos aos mais jovens que buscam ingressar no meio literário através de palestras, conselhos e de suas obras que são reconhecidas por toda Santa Catarina.

( por Miguel João Simão, da Academia de Letras de Biguaçu)

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