QUEM REPRESENTA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA?

1 year ago
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Neste 56º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre como o resultado das eleições afeta a população com deficiência do Brasil. Também comento o lançamento do guia de comunicação acessível e do primeiro banco de imagens de pessoas com deficiência do País.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-56/

Quem vai representar as pessoas com deficiência no Congresso Nacional? Essa é a pergunta que precisamos responder após o resultados das eleições do último domingo, 2, para identificar entre os 513 deputados federais e os 81 senadores se há alguma pessoa com deficiência eleita para mandatos a partir de 2023. E, com ou sem a presença de pessoas com deficiência nessas duas casas, quem, de fato, têm algum interesse nas pautas da acessibilidade e da inclusão.

Há pouquíssima representatividade. A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), que disputou a vice-presidência da República na chapa de Simone Tebet (MDB-MS), continua no Senado por mais quatro anos. O deputado federal Felipe Rigoni (União-ES), cego, que está no primeiro mandato, não conseguiu a reeleição. Romário, que não é pessoa com deficiência, mas atua nessa causa, conseguiu a reeleição para senador para mais 8 anos. Pelo Mato Grosso, a jornalista Amália Barros foi eleita com a bandeira das pessoas com visão monocular. Ela tem 180 mil seguidores no Instagram e fundou no ano passado um instituto, aproveitando a sanção da lei que identifica a visão monocular como deficiência

Neste ano, O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou a candidatura de 476 pessoas com deficiência por dez partidos e três federações, o equivalente a 1,6% do total de candidatos registrados. Desse total, 264 têm deficiência física, 115 têm deficiência visual, 59 declararam ter deficiência auditiva, 13 se apresentaram como autistas e 41 disseram ter outros tipos de deficiências. Dez concorreram à reeleição e 466 estavam na primeira disputa.

Tivemos uma mulher com deficiência na disputa pela vice-presidência da República, quatro pessoas com deficiência na briga por cargos de governador, duas para vice-governador, duas para o Senado, 167 para deputado federal, 284 para deputado estadual, 15 para deputado distrital e 1 para segundo suplente.

Em SP, para a Assembleia Legislativa, entre aqueles que representam a população com deficiência, somente a jornalista Andrea Werner (PSB) foi eleita deputada estadual. Ela não é pessoa com deficiência, mas tem um filho autista e atua na causa, tem muitos seguidoresno Instagram e foi uma das lideranças das ações que pediram a aprovação do rol exemplificativo da ANS, aprovado e sancionado em setembro.

Ainda não sabemos a lista completa nos outros estados e no Congresso, mas é fato que nossa representatividade, mais uma vez, é minúscula.

Precisamos lembrar que, nos últimos quatro anos, diante dos diversos ataques aos direitos das pessoas com deficiência, pelo governo federal e pelos próprios parlamentares no Congresso, foi a atuação de determiados deputados e senadores, com a pressão popular e das instituições, que garantiu a continuidade desses direitos. Resta saber como será esse cenário a partir de 2023.

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O ‘Guia de Comunicação Inclusiva’, lançado na semana passada pelo Grupo Talento Incluir, é direcionado a profissionais de jornalismo, publicidade, marketing, relações públicas, assessoria de imprensa e redes sociais, para atualizar percepções e conteúdos a respeito das pessoas com deficiência.

É uma publicação fundamental porque não há nas redações e nas agências algo semelhante. O guia dá base a textos, ações e campanhas que tratam do universo das pessoas com deficiência ou que abordam esse tema.

Ainda, na maioria da vezes, pessoas com deficiência não participam dessas construções e, por não haver essa opinião, essa avaliação, essa observação de gente que vive nessa realidade, os resultados são, habitualmente, ruins, capacitistas, estereotipados, estigmatizaqdos e preconceituosos.

A comunicação que envolve temas das pessoas com deficiência, quando não há essa orientação, ainda tem caracteríticas benevolentes, carregam o discurso da superação e não tratam as pessoas com deficiência como pessoas, como serer humanos.

O que costuma acontecer no jornalismo, na publicidade, no marketing, nas relações públicas, na assessoria de imprensa e nas redes sociais, quando o tema é a pessoa com deficiência, mas não há pessoas com deficiência no trabalho, é uma presunção, o uso de um pré-conhecimento a respeito dessas questões.

Também foi lançado o UinStock, primeiro banco de imagens do Brasil para a produção e venda de imagens de diversidade da população brasileira, que já chega com mais de 400 fotos, perspectiva de alcançar 3 mil nos próximos meses, de pessoas com deficiências, de diferentes idades, gêneros, etnias e regionalidades.

A proposta é usar imagens reais e elimiar a ‘cripface’, quando pessoas deficiência são interpretadas por atores sem deficiência.

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