NA VIDA REAL E NA FICÇÃO

1 year ago
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Neste 53º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre a série ‘Uma Advogada Extraordinária’, do Netflix, e indico a leitura de ‘Meus Dias Por uma Vida Melhor’, ebook escrito por uma jovem que tem mielomeningocele.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-53/

“Meu nome é Woo-Young woo. Não importa a ordem em que for lido, ainda vai ser Woo-Young woo, como catraca, caneca, cômico, careca e Woo-Young woo”. Essa é a frase que a extraordinária advogada, Woo-Young woo, repete muitas vezes na série da Netflix que conta a história de uma jovem autista e se tornou um sucesso mundial.

A primeira temporada, com 16 episódios, já está liberada por completo e, segundo a Netflix, após nove semanas, o drama coreano ‘Uma Advogada Extraordinária’ está em primeiro lugar no Top 10 das séries de língua não inglesa em 49 países, inclusive o Brasil com quase 49 milhões de horas de visualização.

Tudo começa com a chegada da advogada a um dos maiores escritórios de advocacia da Coréia, chamado de Hanbada, por indicação da CEO desse escritório. Woo-Young woo é autista, do tipo habitualmente representado em séries e filmes, uma pessoa com inteligência muito acima da média, memória eidética (ou memória fotográfica), alta velocidade de raciocínio, um estereótipo da pessoa autista de alta funcionalidade. Segundo especialistas, essas características estão presentes em aproximamente 15% das pessoas autistas, ou seja, 85% das pessoas autistas não têm essa alta funcionalidade.

A série tem uma aura de inocência, de limpeza, de claridade, quase infantil, com uma trilha sonora que reforça essas sensações, mas não é apenas isso porque tem uma densidade, uma profundidade ao abordar os temas mais comuns aos autistas, como as dificuldades de relacionamento, a hipersensibilidade aos sons, às texturas, ao sabores, aos cheiros.

Destaque para a excelente performance da atriz principal, Park Eun-bin, ou Eun-bin Park, de 30 anos, que tem uma sólida carreira, com vários trabalhos importantes desde criança – ela começou aos 5 anos -, já ganhou muitos prêmios e de cinema e televisão. Ela conseguiu atingir uma representação física muito detalhada da personagem autista, inclusive no olhar.

É fato que a série reforça estigmas e esterótipos, mas também trata com muita propriedade do preconceito, da discriminação, da exclusão e da aceitação. É interessante observar como as personagens que estão ao redor da advogada simbolizam sentimentos e impõem desafios. Estão lá a proteção, a amizade, o amor, a ousadia, a confiança, a inveja, a rejeição, o oportunismo e a dissimulação.

Mulheres autistas contaram ao blog Vencer Limites que não tiveram muito interesse na série exatamente porque essa retratação habitual não é a única existente. Sendo assim, é uma repetição do que já vemos em ‘Atypical’, também do Netflix, e em ‘The Good Doctor’, na grade da TV à cabo e da TV aberta.

Essa crítica sobre mais uma personagem autista super inteligente mostra que essas obras de ficção que apostam na representatividade das pessoas com deficiência precisam de personagens mais diversos nesse universo, com sequelas severas e até mais artistas com deficiências.

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“Passei por 14 cirurgias e muitos traumas, mas consegui me desenvolver. O bullying e a minha autoaceitação foram os maiores desafios”, diz Maria Vitória Rezende Pedroso, de 22 anos, que conta no ebook ‘Meus Dias Por uma Vida Melhor’ detalhes da convivência com a mielomeningocele e com deficiências fisicas.

Mielomeningocele é uma condição que surge nas primeiras semanas de gestação, afeta a formação da coluna vertebral e da medula espinhal. Pode provocar lesão nas estruturas da medula, alterar a sensibilidade, os movimentos, o funcionamento da bexiga e do intestino.

“A criança pode não falar, não andar e nem comer sozinha, entre outras consequências. Nasci em Londres, na Inglaterra, e lá é permitido o aborto quando exite risco para o bebê ou para a mãe, mas a minha mãe decidiu continuar. Então, os médicos começaram a prepará-la para tudo isso”, relata a escritora.

Maria diz ter criado uma “personalidade forte” depois de passar por depressão, ansiedade e vários outros problemas. “Eu não aceitava que sou assim e não tem como ser de outra forma. Eu não tinha referências. Todas as garotas da escola eram lindas e ‘normais’. Por muito tempo, pensei que estava errada”, afirma.

Preconceito – “Não culpo as pessoas porque entendo que não nascemos com maturidade suficiente para lidar com as diferenças”, comenta Maria.

Formada em publicidade, ela usa o Instagram para compartilhar depoimentos, opiniões e também para apoiar outras pessoas com deficiência. “Tenho certeza de que consigo ajudar cada pessoa a construir uma mente blindada”, diz.

Ficha Técnica
Ebook: ‘Meus Dias Por uma Vida Melhor’.
Autora: Maria Vitória Rezende Pedroso
Idioma: Português
Página: 49
Formato: PDF
Preço: R$ 49,00
À venda na plataforma Hotmart.

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