RACISMO NO SHOPPING

2 years ago
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Neste 49º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre a violência do racismo e o episódio de agressão em um shopping de Santos. E indico a leitura de ‘Chica da Silva – Romance de uma Vida’, livro da jornalista Joyce Ribeiro.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-49/

Antes de qualquer avaliação, é necessário reafirmar: o Brasil é um país profundamente racista, que exclui, ofende, agride e mata diariamente sua população negra. É um movimento que inverte o caminho da evolução, que tenta manter enterrado o conhecimento sobre a nossa história, sobretudo nossa história de nação escravista, permite todo tipo de violência e faz com que pessoas negras agredidas, no momento dessa agressão, sintam vergonha de reagir, de acionar autoridades e exercer diretos conquistados.

Dessa vez, ganha repercussão o caso em Santos, no litoral de SP. Na noite de sexta-feira, 12, por volta de 19h30, uma família negra passeava pelo Praiamar Shopping, no bairro da Aparecida. Mãe, pai, duas filhas, uma cunhada e uma criança de 3 anos.

A mãe, de 55 anos, entrou em uma loja da Riachuelo. Logo na sequência, segundo a família e testemunhas, inclusive funcionários da loja, uma mulher chamada Larissa Lucato Ferreira, de 34 anos, branca, apontou o dedo para a mulher negra, disse em voz alta “preto tem que morrer” e continuou andando.

“Preto tem que morrer”, frase direta, sem nenhum disfarce e sem qualquer vergonha.

A mulher agredida ficou em choque porque, como me disse o professor José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares: “para quem sofre a agressão racial, a pancada é sempre contundente”.

A agressora foi imediatamente identificada, filmada, e tentou fugir, disse que não havia provas contra ela, mas as testemunhas derrubaram essa alegação no mesmo instante.

A família chamou a polícia e todos foram para a delegacia. A agressora, Larissa Lucato Ferreira, foi detida em flagrante por crime de discriminação, passou a noite presa, teve a liberdade provisória concedida no sábado, 13, e vai permanecer à disposição da polícia e da Justiça.

O Praiamar Shopping publicou uma nota, na qual afirma ser “contra todo e qualquer tipo de discriminação e repudia o fato relatado”, explicou que sua equipe de segurança “é treinada para que, em situações semelhantes, assim que relatado, por se tratar de questões que correspondem ao poder de segurança pública e judiciário, solicitarem ao cliente chamar a Polícia”, salientou que se colocou à disposição das autoridades para apurar os fatos” e disse que seu seguranças “em nenhum momento, negligenciariam a injúria racial feita, inclusive, foi prestado toda assistência necessária à vítima, que desde início, foi amparada pela equipe de segurança do shopping”, completa a nota.

A filha da mulher agredida diz ter sido incentivada, inclusive por pessoas que presenciaram a situação, a não chamar a polícia porque isso “não daria em nada”, como sempre fazem os representantes do racismo estrutural, mas a família vai dar andamento à ação.

A família da Larissa Lucato Ferreira, a agressora, argumentou que ela tem problemas psiquiátricos, sofre de algum tipo de doença mental e tem um laudo que comprova essa condição, algo que também é bastante comum para justificar ações racistas.

É repugnante a forma como o racismo estrtural, que permanece fincado e entrelaçado na nossa sociedade, mas é negado por quem o pratica, sempre tenta reduzir os impactos que essas ações têm nas pessoas agredidas, tenta minimizar a violência do racismo.

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‘Chica da Silva – Romance de uma Vida’ (2021, Geração Editorial), da jornalista Joyce Ribeiro, é um romance histórico sobre lutas, preconceitos que estruturaram sociedades, separações, boatos e injustiças. É o primeito livro sobre Chica da Silva escrito por uma mulher negra.

Em junho, chegou a Portugal e, por meio de uma parceira com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), deve ser publicado em outras nações que falam o nosso idioma.

Joyce Ribeiro é a atual âncora do Jornal da Tarde, da TV Cultura, junto com o jornalista Aldo Quiroga. Ela é ativista e participa de movimentos de luta contra o racismo, pelo direito das mulheres, das meninas e de apoio à educação. Trabalhou em revistas, em rádio, e está na TV desde 1998, como produtora, editora e repórter. Foi âncora na Record, SBT e na própria TV Cultura, quando comandou o Jornal da Cultura, entre 2018 e 2019.

Existem muitas versões sobre Chica da Silva. O famoso filme de 1976 com a atriz Zezé Motta é uma das mais conhecidas caracterizações dessa personagem e, mais recentemente, a interpretação da atriz Taís Araújo, na novela produzida pela TV Manchete em 1996.

A autora ressalta que o livro, além de aprofundar o conhecimento sobre as características humanas mais ocultas de Chica da Silva, propõe um paralelo entre os desafios que ela enfrentou no século XVIII e as dificuldades que as mulheres ainda enfrentam nos dias atuais.

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