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VIVER DO ESCÁRNIO
Neste 43º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), comento a fala do ‘comediante’ Leo Lins sobre hidrocefalia e indico a leitura do Guia de Comunicação Inclusiva, versão 2022, publicado pelo Centro Paula Souza (CPS).
https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-43/
A pior risada é aquela que provém da dor do outro, quando é reação à ridicularização e à zombaria do sofrimento e das dificuldades alheias. Leo Lins se identifica como comediante, vive dessa risada, acumula de seguidores nas redes sociais, tem espaço na TV, faz apresentações para auditórios lotados e ganha dinheiro zombando e ridicularizando o sofrimento alheio.
A fala de Leo Lins sobre uma criança do Ceará com hidrocefalia e sobre o Teleton, programa organizado pela AACD há 25 anos e transmitido pelo SBT – onde o próprio Leo Lins trabalhava, no programa ‘The Noite com Danilo Gentili’ – é mais uma do repertório. Nada novo, especialmente porque foi dita por Leo Lins.
Hidrocefalia é o nome dado ao acúmulo do líquido dentro da cebaça, entre o osso do crânio e o cérebro. Uma pessoa pode nascer com hidrocefalia ou adquirir a condição depois de outras condições, como meningite, tumor, infecção, traumas e até no envelhecimento, quando nosso cérebro perde volume.
Minha sogra tem hidrocefalia e, atualmente, aos 77 anos, sua mobilidade está quase totalmente comprometida, ela não controla mais as funções fisiológicas, tem uma grande dificuldade para falar, perda de memória e das atividades cognitivas, usa entre 90 e 100 fraldas por mês, passa a maior parte do dia na cama porque não consegue mais segurar o corpo sentada na poltrona. Por tudo isso, é totalmemte dependente da filha dela, minha esposa, sua única cuidadora.
Nas poucas vezes em que se expressa, minha sogra diz que está cansada de não fazer nada, algo totalmente compreensível, considerando que ela, antes da hidrocefalia, era uma mulher independente, que trabalhava como caixa em uma farmácia há mais de 20 anos, cuidada sozinha de todas as contas da casa e viajava com o marido nas férias, passeava pela cidade, conversava com amigas e parentes por telefone, mesmo depois de passar por dois AVCs.
A hidrocrefalia é avassaladora e não tem a menor graça, porque o sofrimento e as dificuldades de qualquer pessoa não têm a menor graça. Apesar disso, podemos notar no trecho da apresentação de Leo Lins, que ele e o público presente se divertem com o comentário. E, sendo assim, cabe a pergunta: quem é pior, o autor da bobagem ou os abobados que o aplaudem?
A AACD publicou nas redes sociais uma nota de repúdio veemente à fala de Leo Lins, destacou que o artigo 88 da Lei Brasileira de Inclusão prevê multa e prisão para quem “praticar, induzir ou incitar discriminação da pessoa por sua deficiência” e afirma aguardar um pedido de desculpas.
Eu duvido que Leo Lins peça desculpas, porque não fez isso nas muitas vezes em que ridicularizou e zombou do sofrimento alheio porque, mais uma vez, ele vive dessa risada, acumula milhões de seguidores nas redes sociais, tem espaço na TV aberta, faz apresentações para auditórios lotados e ganha muito dinheiro.
Essa pobreza de conteúdo é um sintoma do empobrecimento da educação, da baixa qualidade do material cultural produzido e consumido atualmente, do tipo de personalidade que as redes sociais produzem. Leo Lins é uma representação dessa pobreza de conhecimento, dessa mediocridade, desse nivelamento pelo patamar mais baixo.
Claro que ele merece uma ação na Justiça, mas o próprio Leo Lins zomba dos processos movidos contra ele e até das reportagens que expõem suas falas idiotizadas, chegou a anunciar doações a instituições que defendem autistas depois de xingar famílias de autistas. Leo Lins mantém o escárnio como ferramenta de trabalho e não vai abandonar essa prática.
É muito melhor que gastemos nossa energia incentivando a sociedade a saber mais sobre pessoas que têm hidrocefalia e outras condições. Talvez essa vivência crie empatia e promova evolução.
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O Centro Paula Souza (CPS) – responsável em SP pelas Escolas Técnicas (ETECS) e Faculdades de Tecnologia (FATECS) – lançou a versão 2022 do Guia de Comunicação Inclusiva.
A publicação gratuita, criada em 2019, apoia professores e alunos em ações de combate ao preconceito e à discriminação no ambiente escolar, ajuda a promover o respeito, esclarece expressões e siglas, dá base a debates sobre equidade de gêneros e comenta estereótipos.
Uma seção é dedicada à comunicação na internet e aos diálogos saudáveis e cordiais nas redes sociais.
O guia faz ainda uma revisão de conceitos voltados às pessoas com deficiência e de definições de gêneros, além de ter um QR Code para fixação em murais.
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VencerLimites.com.br é um espaço de notícias sobre diversidade integrado ao portal Estadão.com.br.
ACESSE: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/
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