Milhares invadem residência do presidente do Sri Lanka em meio a caos econômico. O Presidente fugiu.

1 year ago
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O Sri Lanka está prestes a assistir à saída do segundo premiê em dois meses. Ranil Wickremesinghe afirmou neste sábado (9) que pretende renunciar, depois de milhares de pessoas invadirem a residência do presidente Gotabaya Rajapaksa em Colombo.
O episódio adiciona mais um capítulo à crescente insatisfação popular em que o país está mergulhado há meses devido à pior crise econômica enfrentada em sete décadas. O Ministério da Defesa informou que Rajapaksa fugiu de casa antes da invasão do local e que o premiê também teria sido transferido para um lugar seguro.
Motivada em grande parte pela escassez de combustíveis que já dura meses, a população pede a renúncia do presidente. Caso ele saia, o próximo na linha de sucessão seria o premiê Wickremesinghe, que, no entanto, disse estar disposto a deixar o cargo para apaziguar a crise.
Em situação semelhante, o ex-primeiro-ministro Mahinda Rajapaksa, irmão mais velho de Gotabaya e uma das figuras políticas mais proeminentes do país, foi forçado a renunciar em maio.
Wickremesinghe, o atual premiê, afirmou que conversou com vários líderes de partidos para decidir como agir e também convocou o Parlamento. Após a reunião, seu gabinete informou que ele estaria disposto a renunciar ao cargo e abrir caminho para que um novo governo, composto por todas as legendas políticas, assuma.
Depois, o próprio premiê escreveu no Twitter: "Para garantir a continuidade do governo e a segurança de todos os cidadãos, aceito hoje a recomendação dos líderes do partido para dar lugar a um governo de todas as legendas". Horas depois, a casa dele também foi invadida, e, segundo a polícia, um incêndio foi provocado no imóvel pelos manifestantes.
Enquanto isso, na residência oficial do presidente - que estaria sendo escoltado por uma unidade militar em local não divulgado -, centenas de manifestantes seguravam bandeiras do Sri Lanka quando invadiram o local, mostram imagens de canais de TV cingaleses e transmissões nas redes sociais. Outros celebraram na piscina.
Ao menos 39 pessoas, incluindo dois policiais, ficaram feridas e foi hospitalizada durante os protestos, segundo informações da agência Reuters. A polícia usou gás lacrimogêneo e canhões de água contra a multidão em alguns lugares e tiros foram disparados para o alto.
Apesar da escassez de combustível, manifestantes de todo o país lotaram ônibus e caminhões na sexta (8) para que pudessem chegar a Colombo, e participar dos protestos. O governo chegou a decretar toque de recolher, mas a medida, além de ignorada pelos manifestantes, foi suspensa depois que partidos de oposição e ativistas de direitos humanos ameaçarem processar o chefe da polícia nacional.
Sampath Perera, 37, um pescador, pegou um ônibus superlotado da cidade litorânea de Negombo, 45 km ao norte da cidade.
"Nós dissemos a Gota [forma como o presidente é chamado] para ir para casa várias vezes, mas ele ainda está agarrado ao poder. Não vamos parar até que ele nos ouça", disse Perera à agência Reuters.
A pequena ilha de 22 milhões de habitantes mergulhou na pior crise econômica desde sua independência do Reino Unido, em 1948, devido à limitação de importações de combustíveis, alimentos e remédios. A alta da inflação, que atingiu recorde de 54,6% em junho e deve chegar a 70% nos próximos meses, intensificou a insatisfação.
A instabilidade também ameaça minar as negociações do Sri Lanka com o Fundo Monetário Internacional (FMI) na tentativa de obter assistência financeira emergencial. Calculada em US$ 51 bilhões, a grande dívida externa do país levou o governo a decretar a moratória de pagamentos em 12 de abril.
A crise decorrente da pandemia de coronavírus também atingiu duramente a economia, que depende do turismo, e reduziu as remessas enviadas por cidadãos que trabalham no exterior. Mas, ainda que a crise sanitária tenha dado o empurrão que faltava para o caos político e social, analistas apontam que o caos econômico tem origem na administração da família Rajapaksa.
Os governantes anunciaram grandes cortes de impostos, que afetaram a arrecadação do governo e fizeram o país ter de usar suas reservas, levando ao crescimento da dívida.
A campanha oficial de proibição do uso de fertilizantes químicos, sob a alegada justificativa de promover a agricultura orgânica para fins de saúde pública, também teve peso, com agricultores tendo uma das piores colheitas no ano passado, e a população assistindo ao preço de produtos alimentícios básicos subir.
A ONU calcula que quase 80% da população pulam refeições para enfrentar a falta de alimentos e a alta dos preços.
Folhapress

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