Autista atrapalha?

2 years ago
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Neste 42º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre o estudante autista de 11 anos que foi deixado no corredor de uma escola municipal de Jaguariúna (SP). E indico o livro ‘Bullying: Capacitismo e Discriminação’.

Em 2015, quando entrevistei a professora Sandra Santos Tadini, mãe de Lucca Tadini, na época com 7 anos, um menino autista, uma frase dela se destacou e permanece atual: “Autismo é a diferença dentro da diferença”.

O entendimento sobre essa diversidade complexa que caracteriza as pessoas autistas tem de ser o ponto de partida para qualquer ação ou reação no que diz respeito à presença de autistas em qualquer ambiente, seja na escola, no trabalho, nos espaços de lazer e diversão, nos atendimentos de emergência na saúde e outros tantos.

Esse estigma do ‘anjo azul’ imputado aos autistas, muito usado, inclusive pelas famílias, representa uma fração desse universo. Assim como os estereótipos da supercapacidade, da superinteligência, relacionados principalmente a autistas diagnosticados com a Síndrome de Asperger, são partes de um enorme leque de possibilidades e realidades. Não podemos esquecer ou ignorar que há nesse caleidoscópio autistas com muitas dificuldades de comunicação e comportamento, e que precisam de muito apoio e compreensão.

Na escolas, essa inclusão é um grande desafio, mas totalmemnte possível se houver conhecimento, entendimento, compreensão e estratégia para lidar com as complexidades e garantir um ambiente seguro e acolhedor para o aluno autista, além de uma estrutura bem construída para o professor conseguir fazer essa inclusão acontecer com sucesso.

Em Jaguariúna, município da região de Campinas, no interior de SP, um menino autista de 11 anos foi deixado no corredor da Escola Municipal Francisco Xavier Santiago para fazer uma prova, sozinho e isolado, totalmente excluído da classe. A decisão de colocar o menino no corredor foi do vice-diretor da escola, sob o argumento de que o estudante estaria atrapalhando a turma. A mãe da criança flagrou a situação, gravou um vídeo e publicou nas redes sociais, após ser alertada porque alguém dentro da escola.

A explicação do vice-diretor é que ele precisva revolver vários problemas simultâneos e, dessa forma, resolveu aplicar um castigo por mau comportamento, deixando o menino autista sozinho no corredor, porque aquele problema não era ‘urgente’.

Essa mãe registrou boletim de ocorrência na delegacia, a secretaria de Educação de Jaguariúna abriu sindicância interna para apurar o caso e determinou o afastamento temporário do vice-diretor durante a investigação.

O caso, que ocorreu em 10 de junho e se tornou conhecido na semana passada, é mais um de tantos que demostram como o desconhecimento, o despreparo e a falta de estrutura jogam sobre os ombros dos professores uma carga muito pesada e prejudicam muito, até impedem totalmente, o desenvolvimento das pessoas com deficiência.

A urgência real é de investimento substancial na educação inclusiva, nas ferramentas para essa inclusão, na preparação dos professores, na formação e contratação de docentes para ampliar essa estrutura e no entendimento definitivo de que a exclusão e o isolamento dos estudantes com deficiência jamais vão resultar em algo positivo.

LIVRO - Mais de 100 casos de preconceito, abuso e violência contra pessoas com deficiência estão expostos no livro ‘Bullying: Capacitismo e Discriminação’ (Junho/2022, ABarros Editora), organizado pelo escritor Cícero Antônio da Silva Neto, ou apenas Neto Silva, que é autista e mora em Garanhuns, no agreste de Pernambuco.

A proposta é dar voz às pessoas com deficiência e suas famílias em relatos sobre o direito de ir e vir, acesso à educação, saúde e outros temas.

Neto Silva, de 25 anos, lançou no ano passado seu segundo livro, no qual conta a própria história, aborda temas como preconceito e discriminação, e abre espaço para depoimentos de pessoas autistas e seus familiares. ‘Família Autista’, publicado pela editora Brilliant Mind, pode ser adquirido diretamente pelo Whatsapp (+55 87 99929-1517) ou no Instagram @NetoSilva1504.

O autor cursou o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e o ensino médio na rede pública. Com dificuldades para ler e escrever, conseguiu colocar as palavras no papel por meio de um aplicativo que transfere áudio para texto. Nesse processo, foi apoiado pelo neurocientista Alas Alvarenga, também autista.

Em seu primeiro livro, ‘Autista: Anjo Azul’, Cícero Antônio da Silva Neto teve ajuda da professora Socorro Feitosa, do EJA. A publicação foi impressa por gráfica local e lançada oficialmente em 21 de junho de 2019, com evento no Parque Euclides Dourado, na área da Biblioteca Pública Municipal Luiz Brasil, em Garanhuns.

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