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Theatrum Philosophicum − Belos textos de filosofia: DAS TRÊS IMAGENS DE FILÓSOFOS (Parte 1)
"O maior algoz da filosofia é o pensamento opaco".
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"Em 1969, Gilles Deleuze publicou um livro intitulado “Lógica do Sentido”, nele escreveu 34 séries de paradoxos filosóficos. Na décima oitava série apresentou uma coisa muito interessante, ou na verdade, construiu algo brilhante, três imagens de filósofos e suas doenças. Essas imagens revelam três modos de fazer filosofia já lá no seu nascedouro, mas, elas não ficaram prisioneiras do seu tempo, pois é visível a presença dessas três imagens ao longo de toda história da filosofia Ocidental, e mais visível ainda é a hegemonia de uma delas. De acordo com Deleuze, a imagem filosófica mais popular é a fixada pelo filósofo Platão. E qual seria essa imagem hegemônica? A imagem do filósofo como aquele que sai da caverna, assim, a primeira imagem que temos dos filósofos são de seres da ascensão, aqueles que saem da caverna e que se elevam, se purificam das trevas (aqui temos uma dupla conotação deste movimento de ascensão: uma moral e outra intelectual). Então o filósofo é alguém que tem se elevar, pensa alto, de forma caricaturada o filósofo é um homem com a cabeça nas nuvens, um distraído da realidade terrena ou mundana. São os homens das ideias. Para Deleuze, este idealismo aéreo do platonismo é uma doença filosófica, e sua forma típica é o maníaco-depressivo. Até hoje, ainda muitas pessoas olham para os filósofos como seres fora deste mundo, e pessoas tristes ou raivosas. A oscilação comum dos maníacos depressivos. A segunda imagem dos filósofos encontra-se na prática dos filósofos pré-socráticos (receberam este nome em referencia ao personagem platônico Sócrates), mas não foram filósofos de segunda categoria, foram filósofos plenos que, ao contrário da orientação de Platão para os céus, se orientaram para o fundo da caverna. Não se faz filosofia olhando para as alturas, mas sim para o profundo. A grande questão é saber o principio fundador de tudo, a arqué. Eles param de olhar para o alto, dizem não aos céus, e lançam seus olhos para a terra. É a terracidade que importa para eles. Deleuze diz que “o filósofo pré-socrático não sai da caverna [do mundo em busca de um outro mundo], ele estima, ao contrário, que não estamos bastante engajados nela, suficientemente engolidos [pela e na terra] …. [Eles] instalaram o pensamento nas cavernas, a vida na profundida”. Nesse exercício filosófico atrelado a terra, a natureza, ao cosmo, os pré-socráticos revelavam as outras caverna mais profundas existentes dentro da caverna na louca ansiedade de compreender a origem do cosmo a partir dele mesmo, revelavam coisas como princípio fundamental, que lembravam os delírios dos esquizofrênicos, assim Deleuze afirma que “o pré-socratismo é a esquizofrenia propriamente filosófica, a profundidade absoluta cavada nos corpos e no pensamento”. Á conversão “quase religiosa” de Platão aos céus se confronta com a subversão ou submersão dos pré-socráticos na terra, mas temos uma terceira imagem de filósofo, lá mesmo no nascedouro da filosofia, essa imagem é gestada principalmente pelos Estóicos e Cínicos. A orientação filosófica não está nem nos céus (mundo das ideais) e nem nas profundezas da terra (as cavernas dentro da caverna), a orientação filosófica deste novos pensadores fica na superfície, no mundo “real” desenvolvendo um curioso sistema de provocações (cinismo, escárnio, humor). Filosofia a partir de anedotas, “não há mais nem profundidade nem altura. As zombarias cínicas e estoicas contra Platão são incontáveis: trata-se sempre de destituir as idéias e de mostrar que o incorporal não está na altura, mas na superfície”, nos diz Deleuze. Tudo o que acontece e tudo o que se diz acontecer se dá na superfície, podemos lembrar aqui uma bela expressão de Valéry, que Deleuze gosta de citar: O mais profundo é a pele. A superfície nada abaixo, ou atrás das cortinas ou véus, nada no alto, tudo a nossa volta, no mundo que nos cerca. Deleuze conclui esse texto com muito bom humor: “a filosofia das bastonadas nos Cínicos e nos Estóicos substitui a filosofia das marteladas. O filósofo não é mais o ser das cavernas, nem a alma ou o pássaro de Platão, mas o animal chato das superfícies, o carrapato, o piolho”. Fazer filosofia é ficar atento ao que temos aos nossos olhos na superfície".
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