VIVER DO ESCÁRNIO
Neste 43º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), comento a fala do ‘comediante’ Leo Lins sobre hidrocefalia e indico a leitura do Guia de Comunicação Inclusiva, versão 2022, publicado pelo Centro Paula Souza (CPS).
https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-43/
A pior risada é aquela que provém da dor do outro, quando é reação à ridicularização e à zombaria do sofrimento e das dificuldades alheias. Leo Lins se identifica como comediante, vive dessa risada, acumula de seguidores nas redes sociais, tem espaço na TV, faz apresentações para auditórios lotados e ganha dinheiro zombando e ridicularizando o sofrimento alheio.
A fala de Leo Lins sobre uma criança do Ceará com hidrocefalia e sobre o Teleton, programa organizado pela AACD há 25 anos e transmitido pelo SBT – onde o próprio Leo Lins trabalhava, no programa ‘The Noite com Danilo Gentili’ – é mais uma do repertório. Nada novo, especialmente porque foi dita por Leo Lins.
Hidrocefalia é o nome dado ao acúmulo do líquido dentro da cebaça, entre o osso do crânio e o cérebro. Uma pessoa pode nascer com hidrocefalia ou adquirir a condição depois de outras condições, como meningite, tumor, infecção, traumas e até no envelhecimento, quando nosso cérebro perde volume.
Minha sogra tem hidrocefalia e, atualmente, aos 77 anos, sua mobilidade está quase totalmente comprometida, ela não controla mais as funções fisiológicas, tem uma grande dificuldade para falar, perda de memória e das atividades cognitivas, usa entre 90 e 100 fraldas por mês, passa a maior parte do dia na cama porque não consegue mais segurar o corpo sentada na poltrona. Por tudo isso, é totalmemte dependente da filha dela, minha esposa, sua única cuidadora.
Nas poucas vezes em que se expressa, minha sogra diz que está cansada de não fazer nada, algo totalmente compreensível, considerando que ela, antes da hidrocefalia, era uma mulher independente, que trabalhava como caixa em uma farmácia há mais de 20 anos, cuidada sozinha de todas as contas da casa e viajava com o marido nas férias, passeava pela cidade, conversava com amigas e parentes por telefone, mesmo depois de passar por dois AVCs.
A hidrocrefalia é avassaladora e não tem a menor graça, porque o sofrimento e as dificuldades de qualquer pessoa não têm a menor graça. Apesar disso, podemos notar no trecho da apresentação de Leo Lins, que ele e o público presente se divertem com o comentário. E, sendo assim, cabe a pergunta: quem é pior, o autor da bobagem ou os abobados que o aplaudem?
A AACD publicou nas redes sociais uma nota de repúdio veemente à fala de Leo Lins, destacou que o artigo 88 da Lei Brasileira de Inclusão prevê multa e prisão para quem “praticar, induzir ou incitar discriminação da pessoa por sua deficiência” e afirma aguardar um pedido de desculpas.
Eu duvido que Leo Lins peça desculpas, porque não fez isso nas muitas vezes em que ridicularizou e zombou do sofrimento alheio porque, mais uma vez, ele vive dessa risada, acumula milhões de seguidores nas redes sociais, tem espaço na TV aberta, faz apresentações para auditórios lotados e ganha muito dinheiro.
Essa pobreza de conteúdo é um sintoma do empobrecimento da educação, da baixa qualidade do material cultural produzido e consumido atualmente, do tipo de personalidade que as redes sociais produzem. Leo Lins é uma representação dessa pobreza de conhecimento, dessa mediocridade, desse nivelamento pelo patamar mais baixo.
Claro que ele merece uma ação na Justiça, mas o próprio Leo Lins zomba dos processos movidos contra ele e até das reportagens que expõem suas falas idiotizadas, chegou a anunciar doações a instituições que defendem autistas depois de xingar famílias de autistas. Leo Lins mantém o escárnio como ferramenta de trabalho e não vai abandonar essa prática.
É muito melhor que gastemos nossa energia incentivando a sociedade a saber mais sobre pessoas que têm hidrocefalia e outras condições. Talvez essa vivência crie empatia e promova evolução.
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O Centro Paula Souza (CPS) – responsável em SP pelas Escolas Técnicas (ETECS) e Faculdades de Tecnologia (FATECS) – lançou a versão 2022 do Guia de Comunicação Inclusiva.
A publicação gratuita, criada em 2019, apoia professores e alunos em ações de combate ao preconceito e à discriminação no ambiente escolar, ajuda a promover o respeito, esclarece expressões e siglas, dá base a debates sobre equidade de gêneros e comenta estereótipos.
Uma seção é dedicada à comunicação na internet e aos diálogos saudáveis e cordiais nas redes sociais.
O guia faz ainda uma revisão de conceitos voltados às pessoas com deficiência e de definições de gêneros, além de ter um QR Code para fixação em murais.
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VencerLimites.com.br é um espaço de notícias sobre diversidade integrado ao portal Estadão.com.br.
ACESSE: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/
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Autista atrapalha?
Neste 42º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre o estudante autista de 11 anos que foi deixado no corredor de uma escola municipal de Jaguariúna (SP). E indico o livro ‘Bullying: Capacitismo e Discriminação’.
Em 2015, quando entrevistei a professora Sandra Santos Tadini, mãe de Lucca Tadini, na época com 7 anos, um menino autista, uma frase dela se destacou e permanece atual: “Autismo é a diferença dentro da diferença”.
O entendimento sobre essa diversidade complexa que caracteriza as pessoas autistas tem de ser o ponto de partida para qualquer ação ou reação no que diz respeito à presença de autistas em qualquer ambiente, seja na escola, no trabalho, nos espaços de lazer e diversão, nos atendimentos de emergência na saúde e outros tantos.
Esse estigma do ‘anjo azul’ imputado aos autistas, muito usado, inclusive pelas famílias, representa uma fração desse universo. Assim como os estereótipos da supercapacidade, da superinteligência, relacionados principalmente a autistas diagnosticados com a Síndrome de Asperger, são partes de um enorme leque de possibilidades e realidades. Não podemos esquecer ou ignorar que há nesse caleidoscópio autistas com muitas dificuldades de comunicação e comportamento, e que precisam de muito apoio e compreensão.
Na escolas, essa inclusão é um grande desafio, mas totalmemnte possível se houver conhecimento, entendimento, compreensão e estratégia para lidar com as complexidades e garantir um ambiente seguro e acolhedor para o aluno autista, além de uma estrutura bem construída para o professor conseguir fazer essa inclusão acontecer com sucesso.
Em Jaguariúna, município da região de Campinas, no interior de SP, um menino autista de 11 anos foi deixado no corredor da Escola Municipal Francisco Xavier Santiago para fazer uma prova, sozinho e isolado, totalmente excluído da classe. A decisão de colocar o menino no corredor foi do vice-diretor da escola, sob o argumento de que o estudante estaria atrapalhando a turma. A mãe da criança flagrou a situação, gravou um vídeo e publicou nas redes sociais, após ser alertada porque alguém dentro da escola.
A explicação do vice-diretor é que ele precisva revolver vários problemas simultâneos e, dessa forma, resolveu aplicar um castigo por mau comportamento, deixando o menino autista sozinho no corredor, porque aquele problema não era ‘urgente’.
Essa mãe registrou boletim de ocorrência na delegacia, a secretaria de Educação de Jaguariúna abriu sindicância interna para apurar o caso e determinou o afastamento temporário do vice-diretor durante a investigação.
O caso, que ocorreu em 10 de junho e se tornou conhecido na semana passada, é mais um de tantos que demostram como o desconhecimento, o despreparo e a falta de estrutura jogam sobre os ombros dos professores uma carga muito pesada e prejudicam muito, até impedem totalmente, o desenvolvimento das pessoas com deficiência.
A urgência real é de investimento substancial na educação inclusiva, nas ferramentas para essa inclusão, na preparação dos professores, na formação e contratação de docentes para ampliar essa estrutura e no entendimento definitivo de que a exclusão e o isolamento dos estudantes com deficiência jamais vão resultar em algo positivo.
LIVRO - Mais de 100 casos de preconceito, abuso e violência contra pessoas com deficiência estão expostos no livro ‘Bullying: Capacitismo e Discriminação’ (Junho/2022, ABarros Editora), organizado pelo escritor Cícero Antônio da Silva Neto, ou apenas Neto Silva, que é autista e mora em Garanhuns, no agreste de Pernambuco.
A proposta é dar voz às pessoas com deficiência e suas famílias em relatos sobre o direito de ir e vir, acesso à educação, saúde e outros temas.
Neto Silva, de 25 anos, lançou no ano passado seu segundo livro, no qual conta a própria história, aborda temas como preconceito e discriminação, e abre espaço para depoimentos de pessoas autistas e seus familiares. ‘Família Autista’, publicado pela editora Brilliant Mind, pode ser adquirido diretamente pelo Whatsapp (+55 87 99929-1517) ou no Instagram @NetoSilva1504.
O autor cursou o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e o ensino médio na rede pública. Com dificuldades para ler e escrever, conseguiu colocar as palavras no papel por meio de um aplicativo que transfere áudio para texto. Nesse processo, foi apoiado pelo neurocientista Alas Alvarenga, também autista.
Em seu primeiro livro, ‘Autista: Anjo Azul’, Cícero Antônio da Silva Neto teve ajuda da professora Socorro Feitosa, do EJA. A publicação foi impressa por gráfica local e lançada oficialmente em 21 de junho de 2019, com evento no Parque Euclides Dourado, na área da Biblioteca Pública Municipal Luiz Brasil, em Garanhuns.
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Não mexa nos meus privilégios
Neste 40º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre a audiência pública do TST que pode resultar em mudanças na Lei de Cotas e comento de que maneira a decisão do STJ a respeito do rol da ANS prejudica muito as pessoas com deficiência. Na dica de livro, ‘A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia’.
A inclusão das pessoas com deficiência no trabalho está, mais uma vez, ameaçada. Falei sobre isso na semana passada e reforço aqui porque nesta terça-feira, 14, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) faz uma audiência pública que debate o cumprimento das exigências da Lei de Cotas no setor aeroportuário. Começa às 9h, com transmissão ao vivo no YouTube.
Essa audiência foi convocada pelo ministro Cláudio Brandão, que é relator de dois processos envolvendo as empresas Swissport Brasil e Orbital Serviços Auxiliares de Transporte Aéreo. Serão 20 expositores, entre empresas, entidades e órgãos públicos.
As empresas alegam que a maioria das suas atividades é feita no pátio de manobra das aeronaves, um local de acesso restrito, o que impossibilita a contratação de pessoas com deficiência. E que essas funções operacionais devem ser excluídas da base de cálculo, restando somente as vagas administrativas para trabalhadores com deficiência.
Esses processos ameaçam a inclusão das pessoas com deficiência no trabalho porque, se o tribunal entender que o argumento das empresas é valido, outras companhias de outros setores poderão apresentar a mesma justificativa para limitar o acesso dos trabalhadores com deficiência a determinadas vagas. E o percentual de profissionais com deficiência que têm emprego formal no Brasil, que já é menos de 1%, vai cai muito.
Não seria supresa uma decisão favorável às empresas nesse caso, porque há no Brasil um movimento constante, um lobby agressivo do setor corporativo, para flexibilizar as regras da Lei de Cotas. E esse lobby tem base, como sempre, na avaliação da pessoa com deficiência exclusivamente pela deficiência e no suposto custo extra que a presença do profissional com deficiência gera para a empresa. Ainda é excessão o entendimento mais profundo a respeito do poder e dos benefícios da inclusão. Há projetos sólidos e de sucesso em grandes corporações nacionais e internacionais, mas isso representa algo em torno de 2% do mundo corporativo no Brasil. O que a maioria quer é se livrar dessa obrigação.
Também não foi surpresa a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) na questão do rol taxativo da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que vai prejudicar muito os clientes dos planos de saúde que são pessoas com deficiência ou que têm familiares com deficiência.
Essa demanda pela cobertura mais abrangente de tratamentos é antiga e já gera muitas ações na Justiça. Há vários casos de gente com deficiência, principalmente criança, que precisa de terapia multidisciplinar para evoluir fisicamente ou intelelectualmente, mas os planos de saúde negam a cobertura. Famílias de crianças e jovens autistas travam essa luta há anos.
Segundo dados oficiais, 25% da população brasileira é usuária de plano de saúde. É um grupo que paga três vezes pela saúde, porque paga os impostos, em teoria, investidos nesse setor, também paga a mensalidade do plano de saúde e ainda precisa bancar determinados tratamentos e procedimentos que os planos não cobrem, para não entrar na fila do SUS.
Aliás, é o Sistema Único de Saúde, do qual 75% dos brasileiros precisam, que vai ficar sobrecarregado, com mais gente em busca de tratamentos e terapias multidisciplinares, que são oferecidas, mas numa fila muito grande.
Essa decisão do STJ mostra como o judiciário está distante da realidade da população, prinicipalmente da população com deficiência e, fundamentalmente, mostra que nosso País está seguindo pelo caminho da saúde como produto que somente quem tiver muita grana vai conseguir comprar.
Na dica de livro, indico ‘A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia 1865-1908’ (Abril/2022, Editora Telha), do pesquisador, fotógrafo, gravurista e pintor Maurício Zouein, que escava o passado para olhar o presente, as etinas e as culturas da região amazônica.
A proposta é aumentar a compreensão sobre as relações sociais, políticas, econômicas e culturais, mostrando imagens da luta local pela preservação das tradições e do ‘progresso a qualquer custo’, e como essa floresta, que é a maior do planeta, está sucumbindo, pouco a pouco, às ações de degradação do homem.
FICHA TÉCNICA:
Livro: A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia (1865 – 1908)
Autor: Maurício Zouein
Editora: Telha
Páginas: 270
https://editoratelha.com.br/
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EXCLUSÃO NA SAÚDE E NO TRABALHO
Neste 40º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre a audiência pública do TST que pode resultar em mudanças na Lei de Cotas e comento de que maneira a decisão do STJ a respeito do rol da ANS prejudica muito as pessoas com deficiência. Na dica de livro, ‘A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia’.
A inclusão das pessoas com deficiência no trabalho está, mais uma vez, ameaçada. Falei sobre isso na semana passada e reforço aqui porque nesta terça-feira, 14, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) faz uma audiência pública que debate o cumprimento das exigências da Lei de Cotas no setor aeroportuário. Começa às 9h, com transmissão ao vivo no YouTube.
Essa audiência foi convocada pelo ministro Cláudio Brandão, que é relator de dois processos envolvendo as empresas Swissport Brasil e Orbital Serviços Auxiliares de Transporte Aéreo. Serão 20 expositores, entre empresas, entidades e órgãos públicos.
As empresas alegam que a maioria das suas atividades é feita no pátio de manobra das aeronaves, um local de acesso restrito, o que impossibilita a contratação de pessoas com deficiência. E que essas funções operacionais devem ser excluídas da base de cálculo, restando somente as vagas administrativas para trabalhadores com deficiência.
Esses processos ameaçam a inclusão das pessoas com deficiência no trabalho porque, se o tribunal entender que o argumento das empresas é valido, outras companhias de outros setores poderão apresentar a mesma justificativa para limitar o acesso dos trabalhadores com deficiência a determinadas vagas. E o percentual de profissionais com deficiência que têm emprego formal no Brasil, que já é menos de 1%, vai cai muito.
Não seria supresa uma decisão favorável às empresas nesse caso, porque há no Brasil um movimento constante, um lobby agressivo do setor corporativo, para flexibilizar as regras da Lei de Cotas. E esse lobby tem base, como sempre, na avaliação da pessoa com deficiência exclusivamente pela deficiência e no suposto custo extra que a presença do profissional com deficiência gera para a empresa. Ainda é excessão o entendimento mais profundo a respeito do poder e dos benefícios da inclusão. Há projetos sólidos e de sucesso em grandes corporações nacionais e internacionais, mas isso representa algo em torno de 2% do mundo corporativo no Brasil. O que a maioria quer é se livrar dessa obrigação.
Também não foi surpresa a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) na questão do rol taxativo da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que vai prejudicar muito os clientes dos planos de saúde que são pessoas com deficiência ou que têm familiares com deficiência.
Essa demanda pela cobertura mais abrangente de tratamentos é antiga e já gera muitas ações na Justiça. Há vários casos de gente com deficiência, principalmente criança, que precisa de terapia multidisciplinar para evoluir fisicamente ou intelelectualmente, mas os planos de saúde negam a cobertura. Famílias de crianças e jovens autistas travam essa luta há anos.
Segundo dados oficiais, 25% da população brasileira é usuária de plano de saúde. É um grupo que paga três vezes pela saúde, porque paga os impostos, em teoria, investidos nesse setor, também paga a mensalidade do plano de saúde e ainda precisa bancar determinados tratamentos e procedimentos que os planos não cobrem, para não entrar na fila do SUS.
Aliás, é o Sistema Único de Saúde, do qual 75% dos brasileiros precisam, que vai ficar sobrecarregado, com mais gente em busca de tratamentos e terapias multidisciplinares, que são oferecidas, mas numa fila muito grande.
Essa decisão do STJ mostra como o judiciário está distante da realidade da população, prinicipalmente da população com deficiência e, fundamentalmente, mostra que nosso País está seguindo pelo caminho da saúde como produto que somente quem tiver muita grana vai conseguir comprar.
Na dica de livro, indico ‘A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia 1865-1908’ (Abril/2022, Editora Telha), do pesquisador, fotógrafo, gravurista e pintor Maurício Zouein, que escava o passado para olhar o presente, as etinas e as culturas da região amazônica.
A proposta é aumentar a compreensão sobre as relações sociais, políticas, econômicas e culturais, mostrando imagens da luta local pela preservação das tradições e do ‘progresso a qualquer custo’, e como essa floresta, que é a maior do planeta, está sucumbindo, pouco a pouco, às ações de degradação do homem.
FICHA TÉCNICA:
Livro: A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia (1865 – 1908)
Autor: Maurício Zouein
Editora: Telha
Páginas: 270
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STF decide que cota não é negociável
Neste 39º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre a decisão do STF a respeito do Tema 1046 e também comento um processo trabalhista que, mais uma vez, ameaça a Lei de Cotas. Na dica de livro, indico o ‘Guia de Legislações Específicas em Diversidade’.
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou a novela do Tema 1046 e decidiu que cotas para inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho não são negociáveis porque esse direito pertence à coletividade e não a um indivíduo ou categoria específica.
Estava em julgamento no STF uma proposta para retirar cargos da lista que determina se a empresa tem que cumprir a cota e contratar pessoas com deficiência, uma proposta para alterar a base de cálculo, enxugar essa lista e reduzir a cota. E, por consequência, se essas cotas, de 2% a 5%, eram ou não negociáveis, se poderiam ser alteradas por acordos entre sindicatos e empresas.
“A cota é um instrumento de política pública para a proteção e integração social da pessoa com deficiência. É um direito da coletividade, de uma parcela da sociedade que tem deficiência. Sendo assim, nem as empresas e nem os sindicatos podem decidir sobre essa aplicação”, explica o advogado Marcos da Costa, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP) e um homem com deficiência.
“O Supremo decidiu pelo legislado, ou seja, vale o que determina a Lei de Cotas, que não é ligada à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), mas sim uma legislação específica”, afirma o especialista.
“O regime de cotas não foi alterado e o tema está encerrado. Como essa decisão afeta uma série de aspectos, não apenas pessoas com deficiência, há espaço para apresentação dos embargos de declaração, que pedem à corte esclarecimentos mais detalhados sobre a decisão, mas não acredito que sejam apresentados”, avalia Marcos da Costa.
Não podemos baixar a guarda – O encerramento do julgamento do Tema 1046 no STF não acaba com as ameaças à Lei de Cotas. Tem duas ações trabalhistas em análise pelo TST, o Tribunal Superior do Trabalho, que também pedem alterações na aplicação das cotas. E a decisão sobre essas ações pode permitir às empresas escolher em quais setores e funções as pessoas com deficiência poderão trabalhar.
As ações envolve duas empresas, Swissport Brasil e Orbital Serviços Auxiliares de Transporte Aéreo. Essas companhias alegam que a maioria das suas atividades é feita no pátio de manobra das aeronaves, um local de acesso restrito, o que impossibilita a contratação de pessoas com deficiência. E que essas funções operacionais devem ser excluídas da base de cálculo, restando somente as vagas administrativas para trabalhadores com deficiência.
Os processos começaram em 2018 e já passaram por várias fases. No próximo dia 14 de junho, daqui uma semana, vai ter uma audiência pública para discutir o cumprimento das cotas para pessoas com deficiência no setor aeroportuário, convocada pelo ministro Cláudio Brandão, do TST, que é relator das ações.
O prazo para inscrição já acabou. Vão participar órgãos do governo, do poder judiciário, instituições que defendem os direitos das pessoas com deficiência, as empresas que ajuizaram as ações e entidades que representam o setor aeroportuário.
Na dica de livro, indico o ‘Guia de Legislações Específicas em Diversidade’, publicado pela Gestão Kairós, consultoria de sustentabilidade e diversidade comandada pela Liliane Rocha.
A publicação trata de muitos temas, entre os quais estão a inclusão da pessoa com deficiência no trabalho e a discriminação que antecede a contratação em obediência à Lei de Cotas (nº 8.213/1991). Também aborda questões de gênero, raça e sexualidade.
A proposta é ampliar o conhecimento sobre o conceito da diversidade como um direito essencial e como um valor universal, independentemente de características ou singularidades.
O livro tem base na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na nossa Constituição Federal e no Código Civil.
O conteúdo está liberado gratuitamente na página da Gestão Kairós.
TODOS OS LINKS ESTÃO NO BLOG: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-39/
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Cercada e sozinha
Neste 37º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre o isolamento cruel das mães de crianças com deficiência e indico um livro para entender o autismo.
A mãe de uma criança com deficiência, muitas vezes chamada de ‘mãe atípica’, vive rodeada de preconceitos, de discriminações e até de agressões, especialmente se a criança tem deficiência intelectual com sequelas graves, particularmente quando a criança é autista no tal ‘grau severo’.
Recebo relatos constantes de mães que não sabem mais a quem recorrer porque seus filhos com deficiência são negligenciados nas escolas, são atacados em grupos de pais ou do condomínio no WhatsApp, são alvo de piadas maldosas até mesmo entre familiares.
Tudo isso, somado às dificuldades reais de administrar condições sensoriais que geram um comportamento sem controle na criança, geram as crises em ambientes estranhos, quando há gente estranha ao redor, acabam por exigir dessa mãe um estado permanente de alerta e, por consequência, provocam a exaustão. E, com essas situações se repetindo, muitas vezes essa mãe se vê isolada e desamparada.
Então, é uma mãe que está constantemente cercada e sempre sozinha.
E não há revolta suficiente, indignação suficiente diante do que veio à público na semana passada em São Sebastião do Paraíso, na região sul de Minas Gerais, uma consequência direta desse cenário. Ana Paula, uma mulher de 39 anos, faleceu em casa após sofrer um infarto fulminante, e o filho dela, um menino autista de 6 anos que ainda não aprendeu a falar, ficou 12 dias sozinho no imóvel, comendo o que havia por lá.
Imediatamente, nós precisamos fazer perguntas fundamentais: Cadê o pai do menino? É normal para um pai, casado ou não, não ter notícias sobre o próprio filho por 12 dias? Esse menino não frequenta nenhuma escola, nenhuma instituição? Essa mãe não tem vizinhos, amigos, parentes?
Na apuração desse caso, lendo todas as reportagens que consegui encontrar, ninguém sabe o sobrenome da Ana Paula e nem o nome do menino que ficou 12 dias sozinho com a mãe morta. Como isso é possível?
E essa não foi a primeira vez que algo assim aconteceu.
No ano passado, em Jataí (GO), a 320 quilômetros de Goiânia, uma criança autista de 7 anos ficou trancada dentro da própria casa, sozinha, por vários dias, depois que a mãe dela, Renata Duarte de Oliveira, de 28 anos, morreu de causas naturais. A criança usou o celular para avisar conhecidos e até fez imagens da mãe caída, mas não havia sinal de internet e os pedidos de ajuda não chegaram.
Em outubro de 2021, em Uberlândia (MG), os corpos de mãe e filho foram encontrados dentro da casa ondem moravam juntos. Ilza Maria Assunção, de 56 anos, ficou quatro dias sem se comunicar com a família e um de seus irmãos foi até residência. Ela estava caída e Breno dos Reis Gomes de Assunção, de 19 anos, filho de Ilza, um jovem com deficiência, tetraplégico, que era cuidado pela mãe, também estava sem vida.
O mito da mãe especial, guerreira, esconde o abandono, a negligência e a solidão.
Esse caso ganhou repercussão a partir da publicação da jornalista e escritora Andrea Werner no Instagram, com o título ‘Eu sinto muito, Ana Paula’.
LEIA A REPORTAGEM: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/o-isolamento-cruel-da-mae-atipica/
Na dica de livro, ‘Autismo.S – Olhares e Questões’ (2022, Appris Editora), da psicóloga e psicanalista Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly, que discute as possibilidades de compreensão dessa condição, apresenta aspectos históricos e teóricos, destaca a importância de dimensionar a pluralidade de possibilidades e defende a necessidade fundamental de se ouvir a pessoa autista para evitar diagnósticos vagos e genéricos.
“O autismo é uma condição em alguém que tem nome, que faz parte da história de sua comunidade e tem a própria história. E a neurodiversidade está longe de uma doença a ser curada, precisa ser bem conduzida no processo educativo e respeitada com a delicadeza das diferenças”, afirma a autora.
O livro também reflete a respeito do autismo depois da pandemia de covid-19. E explica que não há aumento dos casos de autismo, mas sim um crescimento no número de diagnósticos.
Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly é psicóloga, psicanalista e professora de graduação e pós-graduação, supervisora de serviços públicos de saúde e assistência social, uma das fundadoras do Núcleo de Estudos em Psicanálise e Educação (Nepe), em Poços de Caldas (MG).
LEIA A REPORTAGEM SOBRE LIVRO: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/muitos-autistas/
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Entre bikes e livros
Neste 36º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre o projeto ‘Bike Sem Barreiras’ e sobre a plataforma ‘Folhetins Emilianos’.
Criado em 2016, o projeto ‘Bike Sem Barreiras’, do grupo Ser Educacional, empresta bicicletas adaptadas para pessoas com deficiências visuais, físicas, intelectuais, deficiências múltiplas ou com mobilidade reduzida.
Começou em Recife e, atualmente, atende também em Salvador, João Pessoa, Fortaleza, Natal, São Luís, Rio de Janeiro, Guarulhos e Manaus. Mais de 1.700 pessoas com deficiência já participaram dos encontros nos finais de semana e feriados. A meta é incluir, promovendo saúde e lazer, por meio da atividade física.
Tem handbike, aquele triciclo adaptado para pedalar com as mãos. Tem bicicleta dupla, que é pedalada pela pessoa com deficiência visual e por um monitor ou acompanhante. E tem a bike chamada de ‘The Duet’, que tem uma cadeira de rodas no lugar da roda da frente.
Os encontros são acompanhados por profissionais e alunos dos cursos de Fisioterapia e Educação Física.
Para saber as agendas e participar, basta seguir os perfis @UninorteManaus, @Uninassau, @UniveritasOficial e @UNG_Universidade no Instagram.
Nesta edição da coluna, ao invés de dar uma dica sobre um livro específico, indico o projeto ‘Folhetins Emilianos’, do jornalista, psicólogo, psicanalista e escritor Emílio Figueira, de 52 anos, que atua há 40 anos na defesa da inclusão.
Emílio Figueira tem paralisia, com sequelas na fala e movimentos. É dono de um enorme portifólio de publicações científicas, livros impressos e digitais, com mais de 70 títulos. É professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a educação inclusiva. Atualmente, escreve roteiros e projetos audiovisuais.
O portal ‘Folhetins Emilianos’ reúne todo esse portifólio de publicações infantis, juvenis, contos, novelas, romances e memórias, além de apresentar propostas de trabalho sobre inclusão para escolas.
Entre essas propostas está a publicação ‘A inclusão em sua escola’, que tem cinco partes, explica os tipos de deficiências e conta quem são as pessoas com deficiência, narra a história dessa população, esclarece os conceitos de inclusão e trabalha temas como acessibilidade, materiais adaptados, convivência entre alunos com e sem deficiência, e propõe atividades para transformar todos os alunos em agentes de inclusão escolar.
LEIA A REPORTAGEM COMPLETA, COM TODOS OS LINKS: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-36/
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Cota para quê?
Neste 34º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre o julgamento no STF que pode colocar em risco vagas de jovens aprendizes e pessoas com deficiência.
Temos no Brasil e Lei de Cotas, nº 8.213, de 1991, que estabelece no artigo 93 percentuais de vagas reservadas a trabalhadores com deficiência em empresas com mais de 100 funcionários. De 2% a 5%.
Essa lei de cotas foi aprovada porque há um desequlíbrio no mercado de trabalho, ou seja, as pessoas com deficiência não têm oportunidades na mesma proporção das pessoas sem deficiência e, sendo assim, se isso não é feito de maneira natural, se não há essa equivalência, resta a imposição.
Vez ou outra, volta e meia, todo dia, o tempo todo, alguém tenta modificar a lei de cotas, alterar o texto, mudar os percentuais, misturar outros públicos para reduzir essas cotas, reduzir o número de vagas reservadas e o número de profissionais com deficiência contratadas, sob o argumento de que isso é injusto, que as empresas não massacradas, que a meritocracia resolve essa questão.
O julgamento do Tema 1046 é mais uma ameaça à eficácia da lei de cotas porque a decisão do STF nesse julgamento poderá provocar uma redução legal da quantidade de vagas para trabalhadores com deficiência nas empresas.
A situação é a seguinte: será julgada a proposta para retirar cargos de lista que determina se a empresa tem que cumprir a cota e contratar pessoas com deficiência. O nome disso é base de cálculo. A proposta é mudar essa base de cálculo, enxugar essa lista e, por consequência, reduzir a cota.
Hoje, essas cotas, de 2% a 5%, não são negociáveis, não podem ser alteradas nem por acordos entre sindicatos e empresas, a lei não permite isso, mas também está em julgamento se os acordos entre sindicatos e empresas terão mais força do que a lei, o que também pode reduzir as cotas para trabalhadores com deficiência nas empresas.
O julgamento foi adiado e ainda não tem data prevista para ser retomado. A Rede Brasileira de Inclusão divulgou uma longa nota sobre o tema e a editoria de Política do Estadão acompanha a situação.
LEIA A REPORTAGEM: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-34/
Na dica de livro, ‘Como ser um Líder Inclusivo’ (2017, Scortecci Editora), de Liliane Rocha. Uma abordagem prática, com histórias do mundo empresarial, dados e estatísticas.
Liliane Rocha é fundadora e diretora da Gestão Kairós, a consultoria que fez, entre 2019 e 2021, o estudo ‘Diversidade, Representatividade & Percepção’ e constatou que homens héteros brancos e sem deficiência permanecem dominantes no mercado de trabalho no Brasil.
https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/homens-heteros-brancos-e-sem-deficiencia-permanecem-dominantes-nas-empresas/
Neste livro, a Liliane nos apresenta o termo ‘diversitywashing’, ou lavagem da diversidade, quando empresas lançam comerciais ou produtos centralizados no público que representa a diversidade, mas que, dentro da empresa, não dão a esse público – pessoas com deficiência, mulheres, negros, LGBTQIA+ – propostas de trabalho com qualidade e oportunidades equivalentes de evolução profissional.
É uma leitura fácil e rápida, o livro tem 80 páginas, indicada para qualquer pessoa que está em posição de liderança ou pretender estar, seja em uma empresa, em organizações filantrópicas ou até no poder público.
http://www.amazon.com.br/Como-ser-um-l%C3%ADder-inclusivo/dp/8536652594/
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ACESSE: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/
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Você respirou e seu direito evaporou
Neste 33º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre os ataques aos direitos da população com deficiência no Brasil, que são constantes e cada vez mais certeiros, principalmente quando envolvem arrecadação.
Não há surpresa nas mudanças que bloqueiam as isenções de IPI, ICMS e IPVA.
Esses benefícios são compensações para desviar dos problemas de mobilidade, especialmente no transporte público.
Temos calçadas impossíveis de atravessar para quem usa cadeira de rodas, muletas, bengalas, inclusive quem é cego, outros equipamentos, como carrinhos de bebê, ou até mesmo se você, assim como eu, tem dificuldades para caminhar e corre um risco real, como já aconteceu comigo muitas vezes, de tropeçar e se arrebentar no chão.
Você respirou e seu direito evaporou.
A isenção do IPI está suspensa e precisa de regulamentação, que está nas mãos da Casa Civil.
A força tarefa de Sistema Reação, Comissão 48, Blog do Cadeirante, Diário PcD e Mundo Acessível enviou ofício ao Secretário Especial da Receita Federal, a deputados e senadores.
O bloqueio à isenção de IPI interrompe a isenção do ICMS. Quem pretendia comprar carro ou estava comprando interrompeu o negócio.
Em SP, a isenção de IPVA não se resolve. Tem gente que conseguiu. Tem gente que tinha a isenção e teve o pedido recusado. Tem gente que nem consegue fazer o pedido. Tem gente que pagou parcelas ou o total, porque seria reembolsado, mas não foi. Tem gente que conseguiu no ano passado e depois apareceu na lista de inadimplentes.
E o governo paulista determinou que o laudo da deficiência seja emitido pelo IMESC, o Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo, órgão que nem começou a credenciar médicos e clínicas.
O licenciamento dos veículos começa a vencer em julho. E se o IPVA não estiver pago o carro pode até ser apreendido.
Tem uma petição online, criada pelo Diário PcD, o grupo Podemos SIM e a Comissão 48 com sete solicitações.
Entre elas, a suspensão das cobranças do IPVA de 2022 das pessoas com deficiência que tinham isenções em 2020 ou 2021 e a devolução dos valores arrecadados com os pagamentos do IPVA de 2022 de pessoas com deficiência que tinham a isenção.
Questionei o governo de SP, a secretaria da fazenda e a secretaria da pessoa com deficiência sobre esses problemas. Recebi como resposta um link para a página do próprio governo afirmando que o Sivei está funcionando.
LEIA A REPORTAGEM: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-33/
O Cadastro Nacional de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Cadastro-Inclusão) já recebeu mais de 2,6 milhões de inscrições, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), obtidos com exclusividade pelo blog Vencer Limites.
A plataforma, iniciativa do MMFDH com o Ministério da Economia e o SS, emite o certificado da pessoa com deficiência, documento que comprova essa condição para acesso a políticas públicas do setor. A emissão do certificado é feita por meio do Meu SS (website ou aplicativo). De acordo com dados oficiais, o Brasil tem 17 milhões de pessoas com deficiência.
LEIA A REPORTAGEM: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/cadastro-inclusao-ja-tem-mais-de-26-milhoes-de-inscritos/
Na dica de livro, 'Encarcerados', de John Scalzi, escritor, editor e crítico de cinema, um romance policial futurista, carrega em si uma discussão sobre como as limitações do corpo, avaliadas de maneira isoladas, podem levar a um entendimento divergente do atual sobre quem são as pessoas com deficiência.
Para quem convive com a deficiência em uma sociedade que sempre pensa nessa deficiência como uma doença e que sempre avalia a busca por uma cura, faz pensar sobre qual seria a escolha: ter deficiências e viver com elas em qualquer lugar ou manter essas deficiências no corpo original e viver de maneira sintética.
LEIA A REPORTAGEM SOE O LIVRO: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/voce-deixaria-suas-deficiencias-em-casa/
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Brasil racista raiz
Neste 32º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre a reportagem que fiz com Tatiana Pretona, mulher negra, empreendedora, que recebeu uma reposta abertamente racista após enviar orçamento para um evento.
Quando alguém ainda insiste em afirmar que o Brasil não é um país racista, eu respondo que o Brasil não é apenas um país racista, mas um país racista raiz.
E se eu ler ou escutar um milhão de vezes a resposta que Tatiana Pretona recebeu, um milhão de vezes vou perguntar: 'como é que é?'.
Publiquei a matéria no sábado, 16, e compartilhei nas redes do blog - todas VencerLimitesBR. Nesta segunda-feira, 18, o boletim em áudio foi ao ar na Rádio Eldorado e a reportagem foi compartilhada nas redes sociais do Estadão, no Twitter, Facebook, Instagram e LinkedIn.
https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/nosso-cliente-nao-gosta-de-pessoas-da-cor-da-sua-pele/
Reproduzo abaixo a reposta completa que Tatiana recebeu pelo https://www.instagram.com/pretona_bbq/.
“Bom dia, Tatiana Pretona. Seu orçamento foi um dos melhores que recebemos, porém infelizmente não estaremos contratando seus serviços pois nosso cliente não gosta de pessoas da cor da sua pele. Sentimos muito. Obrigada pela atenção".
Avaliem a naturalidade da afirmação "nosso cliente não gosta de pessoas da cor da sua pele", seguido de um "Sentimos muito. Obrigada pela atenção".
Essa manifestação descarada, escancarada, declarada de racismo, é dupla, feita duas vezes, pela empresa que fez o contato com Tatiana e pelo cliente dessa empresa.
Tatiana diz que não sabe lidar com a repercussão desse caso porque esse tipo de manifestação existe há anos, já surgiu muita e muitas vezes, mas ela nunca expôs por medo fazer mal e estar errada. Contou, por exemplo, que certa vez parou na frente de um shopping e abaixou para amarrar o cadarço do sapato, o que foi suficiente para os seguranças já formarem uma barreira na porta. Ela sequer pretendia entrar.
Ela afirma que está recebendo uma avalanche de mensagens de apoio. E não pretende fazer boletim de ocorrência na polícia ou levar essa situação à Justiça.
Agora, o que precisamos destacar é, mais uma vez, a naturalidade da resposta "nosso cliente não gosta de pessoas da cor da sua pele", porque essa afirmação, registrada, pode ser enquadrada como crime, de acordo com a Lei nº 7.716/1989, que define os crimes de preconceito de raça ou de cor, chamada Lei de Racismo.
O advogado Matheus Falivene, mestre e doutor em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (USP), explica.
https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/wp-content/uploads/sites/189/2022/04/matheusfaliveneadvogadofalasobreaspossiveispunicoesporracismoaempresaqueenviouumarespostaabertamenteracistaachurrasqueiratatianapretona_190420225837.mp3
O artigo 20 diz exatamente que "Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional" pode ser punido com prisão e multa.
Mas isso não intimida gente que não tem qualquer pudor em ser racista e afirma que não gosta de gente que tem pele preta.
O Brasil precisa enfretar sua face racista, conhecer sua história e entender os motivos desse preconceito encravado na raiz do País. Quatro livros podem ajudar.
'Pequeno Manual Antirracista', da filósofa, escritora e palestrante Djamila Ribeiro (2019, Companhia das Letras), que tem 11 lições breves para entender as origens do racismo e como combatê-lo.
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=14774
'Racismo Estrutural', do advogado, filósofo e professor Silvio de Almeida (2019, editora Jandaíra), que faz parte da coleção Feminismos Plurais, apresenta dados estatísticos e discute o racismo na estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira. Livro coordenado pela Djamila Ribeiro.
https://editorajandaira.com.br/products/racismo-estrutural
E os volumes 1 e 2 da trilogia Escravidão, do jornalista e pesquisador Laurentino Gomes (2019 e 2022, Globo Livros) - o terceiro chega à livrarias em julho deste ano. Na minha opinião, essa série tem de ser leitura obrigatória em todas as escolas brasileiras. Um trabalho de pesquisa e detalhamento da história da escravidão no Brasil e que explica por que nosso País é tão profundamente racista.
http://globolivros.globo.com/livros/escravidao-do-primeiro-leilao-de-cativos-em-portugal-ate-a-morte-de-zumbi-dos-palmares-ate-a-morte-de-zumbi-dos-palmares
http://globolivros.globo.com/livros/escravidao-volume-ii-da-corrida-do-ouro-em-minas-gerais-ate-a-chegada-da-corte-de-dom-joao-ao-brasil
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Instituição de pessoas com deficiência
Neste 31º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre o Projeto de Lei n° 795/2022, da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), que propõe a criação da Instituição Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (INADE), com integrantes eleitos por voto direto de organizações representativas de pessoas com deficiência para um mandato de dois anos.
Esse PL também cria o Fundo Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que poderá receber doações e terá recursos previstos na lei orçamentária anual, inclusive provenientes da loteria federal, de condenações e multas de processos judiciais e de termos de ajustamento de conduta.
Publiquei entrevista exclusiva com a senadora sobre o projeto, motivado pela fragilização do Conade, o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, renovado recentemente, sob acusação de aparelhamento pelo governo, e pelas orientações da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
LEIA A ENTREVISTA: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/senadora-propoe-criacao-de-orgao-publico-de-pessoas-com-deficiencia/
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Na dica de livro, falei sobre ‘Figuras da Causação: As novinhas, as mães nervosas & mães que abandonam os filhos’ (2022, editora Telha), escrito pela antropóloga Camila Fernandes, que trata de temas como gravidez planejada, planejamento familiar, culpabilização da mulher, sexualidade desviante e noções de cuidado e negligência.
Essa obra propõe um debate sobre o jogo de empurra entre a sociedade e a classe política, fala sobre a procura por culpados e a indiferença dos gestores das cidades, as péssimas administrações e fracasso no uso de recursos financeiros, em especial aos mais necessitados.
A proposta é lançar luz sobre o conflito silencioso entre mulheres que são mães e enfrentam graves dificuldades de mobilidade social e os administradores públicos que usam como publicidade obras que não fornecem nenhum amparo social público para um mínimo de dignidade e humanidade.
ACESSE A PÁGINA DA EDITORA: https://editoratelha.com.br/product/figuras-da-causacao-as-novinhas-as-maes-nervosas-e-as-maes-que-abandonam-os-filhos/
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Legado da exclusão
Neste 30º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre como as pautas urgentes das pessoas com deficiência parecem muito distantes dos eventos, celebrações e representações dessa população.
Tudo gira em torno das superações, dos anjos azuis e das ações superficiais, que 'bombam' nas redes sociais, como se fossem novidades, mas quase sempre significam retrocesso e redução de direitos.
Nas últimas semanas tivemos o Dia Mundial da Síndrome de Down, 21 de março, tivemos a posse dos selecionados para compor o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Conade), em 31 de março, e tivemos o Dia Internacional de Conscientização sobre o Autismo, 2 de abril.
É claro que tudo isso é muito importante, mas a maneira como essas situações são apresentadas e absorvidas reforça estigmas e estereótipos porque são discuros vazios e imagens montadas, sem observação crítica. E o que é prejudicial às pessoas com deficiência fica limitada a um ou outro perfil, a um ou outro post, a uma ou outra reportagem.
No caso do Conade, há uma acusação direta de aparelhamento, da escolha de pessoas e instituições totalmente alinhadas aos interesses do governo e, por consequência, beneficiadas por esse alinhamento. Ninguém deu muita importância a essa acusação e o que nós veremos a seguir serão as decisões desse conselho e como essas decisões vão ajudar a moldar as políticas públicas para as pessoas com deficiência no Brasil.
LEIA A REPORTAGEM SOE O CONADE: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/novos-integrantes-do-conselho-nacional-das-pessoas-com-deficiencia-tomam-posse/
As eleições desse ano estão provocando uma sequência de exonerações e mudanças no governo federal. Na semana passada, Damares Alves deixou o comando do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e assumiu o cargo Cristiane Rodrigues Britto. Na cerimônia de posse, a nova ministra disse que vai "dar continuidade ao legado de inclusão", segundo ela, deixado por Damares.
Em 21 de janeiro de 2019, eu publiquei uma entrevista com a recém ministra Damares, e essa entrevista foi totalmente centralizada nas ações para a população com deficiência. Damares Alves garantiu que a regulamentação da Lei Brasileira de Inclusão como um todo era uma das prioridades do governo.
Hoje, três anos depois, com Damares exonerada, não chegamos nem perto disso. A LBI tem 127 artigos e menos de 20 foram regulamentados, quase todos com base em decretos dos governos Dilma e Temer.
LEIA A ENEVISTA COM DARES ALVES: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/regulamentar-a-lei-brasileira-de-inclusao-e-prioridade-diz-damares-alves/
Nas celebrações sobre os dias da Síndrome de Down e da Conscientização sobre o Autismo ainda prevalece o discurso da superação, um estereótipo que nos transforma em personagem de ficção.
Nós precisamos de discussões mais abrangentes e mais profundas, porque enquanto a maioria está interessada em vídeos com dancinhas ou com cachorrinhos em cadeiras de rodas, tem uma estrutura poderosa construíndo barreiras às pessoas com deficiência e, quando isso bater na nossa porta, vai ser muito difícil ou impossível derrubar.
Por isso, não fiquem surpresos se os acessos, por exemplo, ao Benefício de Prestação Continuada, ao Auxílio-Inclusão e às isenções para comprar carro novo se tornarem cada vez mais difíceis e restritos. Não fiquem supresos se a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho continuar limitada às vagas de baixa qualidade e pouca remuneração. E se a política de educação do governo, que segrega alunos com deficiência, avançar.
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O livro 'Imperfeitos: Um relato íntimo de como a inclusão e a diversidade podem transformar vidas e impactar o mercado de trabalho' (março/2022, editora Maquinaria Sankto) foi escrito por Julie Goldchmit, uma jovem de 25 anos que teve somente aos 15 a confirmação de que é autista.
E, antes desse diagnóstico tardio, Julie enfrentou problemas na escola, dificuldades de aprendizado, exclusão e bullying. Depois, a falta de vagas de trabalho e assédios constantes.
Um detalhe bacana é que a impressão tem base em conceitos de acessibilidade que, muitas vezes, não são percebidos por leitores, como o uso de letras grandes, fonte é serifada, que facilita a leitura contínua, textos justificados, com o mesmo padrão do início ao fim do livro, tudo em preto e o branco e não há palavras em itálico.
Tem um QR CODE que direciona para a página da editora com trecho do livro, fotos e uma entrevista com a autora.
VÁ PARA A PÁGA DO LIVRO: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/regulamentar-a-lei-brasileira-de-inclusao-e-prioridade-diz-damares-alves/
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